O dólar exibiu depreciação moderada em relação ao real nesta quarta-feira, 21, em mais um dia marcado por enfraquecimento global da moeda norte-americana, em meio às preocupações crescentes com o quadro fiscal dos Estados Unidos. O aumento da aversão ao risco e a queda do petróleo limitaram, porém, o fôlego de divisas emergentes, em especial latino-americanas.
Além do ambiente externo, a formação da taxa de câmbio reflete questões domésticas. De um lado, os juros elevados ajudam a amparar o real. De outro, receios fiscais inibem apostas mais firmes, sobretudo de investidores locais, em uma nova rodada de apreciação da moeda brasileira.
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Com máxima a R$ 5,6780 e mínima a R$ 5,6407, o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 0,48%, a R$ 5,6422.
A moeda apresenta perda de 0,48% nos três primeiros pregões desta semana e de 0,61% no mês. Em 2025, o dólar recua 8,71% em relação ao real, que apresenta o melhor desempenho no período entre as divisas da América Latina.
"O mercado em geral está um pouco mais nervoso hoje. A exceção é o câmbio, que está mais comportado. O dólar perde valor no exterior contra outras moedas, como o euro e o iene, e o real está acompanhando esse processo, em virtude da correlação", afirma o economista-chefe do Integral Group, Daniel Miraglia.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY caiu e rompeu o piso dos 100,000 pontos, com mínima aos 99,336 pontos. No fim da tarde, rondava os 99,600 pontos. O Dollar Index já acumula perda de mais de 1% na semana. Pares do real como os pesos mexicano e colombiano foram das raras exceções a amargar perdas em relação ao dólar.
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As bolsas norte-americanas caíram mais de 1%, ao o que as taxas dos Treasuries subiram, com o retorno dos papéis de 10 e 30 anos avançando mais de 2%. Além do rebaixamento do rating dos EUA pela Moody's, há o impacto do receio dos investidores com o plano de corte de impostos do presidente Donald Trump, que pode agravar o déficit público.
Miraglia, do Integral Group, destaca que as taxas longas de juros estão subindo não apenas nos EUA, mas também em países europeus, como Alemanha e Itália, e no Japão, onde atingiram os maiores níveis em 40 anos.
"Quando as taxas de juros longas sobem desse jeito, em especial hoje, há uma fuga do risco, o que leva à queda das bolsas", afirma Miraglia. "Esse processo de aversão ao risco tende a continuar até o mercado se acomodar com o novo nível dos juros. Isso vale para o mercado brasileiro, que se beneficiou recentemente muito de fluxo de capitais que saíram dos EUA."
Por aqui, investidores aguardam a divulgação na quinta-feira do relatório bimestral de despesas e receitas, com provável contenção de gastos, entre bloqueios e contingenciamentos. Permanecem temores de que o governo Lula adote novas medidas sociais que impliquem em mais despesas.
Especula-se que encontro da Junta de Execução Orçamentária (JEO) desta quarta-feira debateria o desejo do presidente de antecipar o ressarcimento aos lesados pelo esquema de fraudes no INSS. A Advocacia Geral da União (AGU) calcula que os pedidos de reembolso de aposentados e pensionistas do INSS já somam R$ 1 bilhão, apurou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Apesar das incertezas, a Terra Investimentos revisou para baixo a estimativa para o dólar no fim de 2025, de R$ 6,00 para R$ 5,80. A projeção para a taxa de câmbio em dezembro de 2026 caiu de R$ 6,20 para R$ 6,00.