Trama golpista

Baptista diz que foi atacado por rejeitar golpe e confirma que Garnier apoiava Bolsonaro

De acordo com ex-comandante da FAB, enquanto a Marinha do Almirante Almir Garnier indicava lealdade ao então presidente, Baptista denunciava ameaças e reafirmava sua defesa da Constituição

Garnier (foto) demonstrava desconforto com o resultado das urnas e chegou a declarar que as
Garnier (foto) demonstrava desconforto com o resultado das urnas e chegou a declarar que as "tropas da Marinha estariam à disposição do presidente", disse Baptista - (crédito: Reprodução)

O tenente-brigadeiro Carlos Baptista Júnior, ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), revelou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (21/5) que sofreu ataques e ameaças após se recusar a apoiar um plano de ruptura institucional promovido por aliados do então presidente Jair Bolsonaro. Segundo o militar, os ataques ocorreram sobretudo nas redes sociais, onde teria sido chamado de “melancia” e “traidor da pátria”.

Ainda de acordo com Baptista, que falou hoje ao Supremo em condição de testemunha, as ameaças teriam sido feitas por apoiadores ligados ao general Walter Braga Netto.

Baptista relatou que, mesmo diante das pressões, manteve sua posição de legalidade e reafirmou a neutralidade das Forças Armadas em relação a qualquer tentativa de golpe. Ele contou que, em reunião com o general Augusto Heleno, durante uma formatura no ITA, ele reforçou que a Aeronáutica não apoiaria “qualquer ruptura no país” e destacou que a posição era unânime nesse sentido.

Enquanto isso, o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha, assumia uma postura distinta, segundo ele. Desde o início das reuniões no pós-eleição, Garnier demonstrava desconforto com o resultado das urnas e, de acordo com Baptista, chegou a declarar que as “tropas da Marinha estariam à disposição do presidente”. A fala causou apreensão entre os outros comandantes e foi interpretada como um sinal de disposição a colaborar com medidas inconstitucionais, comentou o tenente-brigadeiro.

Garnier e o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, também não se posicionaram contra a minuta de golpe apresentada em 14 de dezembro — diferentemente de Baptista e Freire Gomes, que condenaram o plano. A omissão dos dois foi lida como um gesto de conivência. Na avaliação do tenente-brigadeiro, a ausência de apoio unânime entre os comandantes foi crucial para evitar que o plano de Bolsonaro avançasse.

Apesar da tensão, Baptista defendeu a publicação da nota oficial do Ministério da Defesa, em 10 de novembro de 2022, como forma de esclarecer a posição das Forças. A nota não descartava completamente fraudes, mas falava em “demandas legais” para garantir a paz social. Segundo ele, essa expressão não incluía intervenção militar, mas sim ações institucionais dentro dos limites constitucionais — como a atuação do Congresso.

Baptista garantiu também ter resistido às pressões para legitimar medidas de exceção e que a tentativa de desmoralizá-lo publicamente visava apenas quebrar sua posição firme. “Minha lealdade era com a Constituição. Não havia espaço para aventuras”, afirmou. Ele também alegou não ter conhecimento de qualquer ordem superior relacionada à invasão ao STF.

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postado em 21/05/2025 15:44
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