POLARIZAÇÃO POLÍTICA

Seleção, eleição e polarização: o que a camisa vermelha revela sobre o Brasil

Divulgação de que a Nike, com o aval da CBF, pretende que a Seleção Brasileira utilize uma camisa vermelha na Copa do Mundo dos Estados Unidos, México e Canadá é um bom exemplo de como o radicalismo na política só tende a aumentar

Imagens feitas com inteligência artificial simularam como jogadores da Seleção, como Neymar, com a blusa vermelha: outra mudança prevista é a troca do símbolo da Nike pela nova marca da empresa, a Jordan -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)
Imagens feitas com inteligência artificial simularam como jogadores da Seleção, como Neymar, com a blusa vermelha: outra mudança prevista é a troca do símbolo da Nike pela nova marca da empresa, a Jordan - (crédito: Reprodução/Redes sociais)

Estamos ainda a distantes 520 dias do primeiro turno da eleição presidencial de 2026. Daqui até lá serão longas 74 semanas, com o tradicional caminho devidamente trilhado: definição de candidaturas, início da campanha, debates até a divulgação do resultado das urnas etc. O roteiro traçado até agora, entretanto, nos indica que teremos um grande repeteco das últimas disputas pelo Palácio do Planalto, principalmente em relação a 2018 e 2022, com uma polarização exacerbada, com sinais de que o radicalismo político só tende a aumentar.

A divulgação de que a Nike, com o aval da CBF, pretende que a Seleção Brasileira utilize uma camisa vermelha na Copa do Mundo dos Estados Unidos, México e Canadá é um bom exemplo. Bastou um site estrangeiro especializado no vazamento de roupas esportivas, o Footy Headlines, anunciar a novidade, que uma verdadeira comoção tomou conta dos políticos ligados ao espectro político da direita pela associação da cor ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Teve senador que ameaçou uma I para investigar a CBF. Teve um deputado federal que apresentou projeto de lei para proibir o uso do vermelho na camisa da Seleção. A repercussão se mostrou tão grande que a Confederação Brasileira de Futebol precisou soltar uma nota em que não nega a intenção de usar o vermelho em 2026, mas que "a nova coleção de uniformes para o Mundial ainda será definida em conjunto com a Nike".

Particularmente, considero um equívoco mexer nas cores da Seleção Brasileira. Nossa história vitoriosa no futebol mundial foi toda construída em cima do amarelo e do azul. Mas, ao mesmo tempo, não vejo nada errado, como estratégia de marketing, usar uma tonalidade diferente em determinada competição. A Alemanha, por exemplo, utilizou uma camisa rubro-negra na Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil — inclusive no dia do fatídico 7x1. A inspiração era o tradicional uniforme do Flamengo, o time mais popular do Oiapoque ao Chuí. Nada mais que uma tentativa de aproximar a equipe do país anfitrião.

Em 1999, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, morto em janeiro de 2017, cunhou o conceito de modernidade líquida. Em linhas gerais, os dias atuais são muito mais "repletos de sinais confusos, propensos a mudar com rapidez e de forma imprevisível". "Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar" é uma das frases mais famosas de Bauman.

Fazendo uma analogia, hoje existe uma espécie de "política líquida", aquela que muda com rapidez, em andamento no país. O debate "vermelho na Seleção" encaixa-se nessa situação. Concentra a discussão, mas não traz resultados duradouros à nação. Por  ser um debate efêmero, logo é deixado de lado. Há outros. E não é preciso enumerar! Concorda?


postado em 02/05/2025 06:00 / atualizado em 02/05/2025 06:23
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