Audiovisual

'Senna' perpetua espírito campeão, com a recente conquista internacional de série

Na semana em que a morte de Ayrton Senna completa 31 anos, série brasileira, com produção dos irmãos Gullane, é celebrada em prêmio de escala europeia

A equipe da série Senna recebeu o prêmio de melhor criação, no badalado Prêmio Platino        -  (crédito:  Juan Bezos                 )
A equipe da série Senna recebeu o prêmio de melhor criação, no badalado Prêmio Platino - (crédito: Juan Bezos )

"Ayrton Senna e Nelson Piquet eram os ídolos do Brasil. Faziam o Brasil inteiro, mesmo aquele de pensamentos diferentes, de regiões diferentes, acordar, domingo de manhã, e olhar para a mesma direção — para a tela da tevê, querendo torcer, junto. Isso é especial, e não sabemos se repetirá de novo", observa o intérprete de Piquet, na série da Netflix Senna, Hugo Bonemer, ao Correio. Bonemer viveu Senna, num musical teatral, e, pela série, competiu ao prêmio Platino de melhor ator coadjuvante, que destacou quatro selecionados para categoria. No catálogo do streaming, em seis episódios, a série traz, no último capítulo, os bastidores do fatal Grande Prêmio de San Marino (Ímola, Itália), com fatores que culminaram com a tragédia do piloto, há 31 anos.

"Senna fez a escolha do motor: ele amava mais as corridas do que os seus próprios envolvimentos amorosos. E ele sofre com isso. Não é fácil conviver com as escolhas feitas", observa um dos criadores da série, Luiz Bolognesi (ao lado de Fernando Coimbra, Patrícia Andrade e Vicente Amorim), justamente, premiado, em Madri (pelos Platino), no âmbito ibero-americano, no último domingo. No palco, ele disse: "Mais fortes, podemos. A série Senna foi um exemplo de força e resistência", observou.

Determinação, amor e fé eram elementos no somatório do talento do piloto, como mostra uma emocionante (e documental) cena da série Senna. "Ela era um piloto brasileiro num universo europeu, controlado pelos produtores de lá. O Senna tinha uma estrutura contra ele", diz Bolognesi que contou com a consultoria da família do piloto, "que abriu caminhos e foi facilitadora, na leitura dos roteiros, quando faziam comentários". "A competição, quando saudável e dentro do esporte, ela é boa para todos. Quando sai disso, e entra no campo da besteira, não interessa a ninguém", comentou Bonemer, que integrou um dos times destacados pela celebração do audiovisual ibero-americano, no lúdico Encuentro de las Estrellas, braço de lazer dos prêmios Platino, e no qual os convidados puderam ver a atuação de craques como Iker Casillas, Juan Pablo Sorín e Mario Suárez.

O sucesso de Senna, na plataforma, cravou público alto na Itália, Reino Unido, Japão e Brasil. "Senna e Piquet são a mitologia brasileira. Eles são nossas realezas; assim como os britânicos enchem os olhos com reinados", comentou Bonemer. Dentre a preparação para o papel de Senna (no teatro), em 2017, Hugo Bonemer se afundou em estudos sobre automobilismo: correu (na Stock Car) com dicas de Cacá Bueno, e, com Bruno Senna, esteve na preparação do kart, isso sem contar do respaldo via Instituto Ayrton Senna. "Fui respirando tudo isso", observa.

  • O brasileiro vencedor pela série Senna, o criador Luiz Bolognesi
    O brasileiro vencedor pela série Senna, o criador Luiz Bolognesi Juan Bezos


Batida na trave, e caos

Concorrente (sem êxito) a Melhor Minissérie ou Telessérie de Ficção ou Documentário, Senna teve produção de Caio e Fabiano Gullane, justamente coprodutores de Uma história de amor e fúria (2013), outra destacada obra de Bolognesi, que ficou entre finalistas à seleção para o Oscar de melhor animação. Ainda que otimista, Bolognesi pinçou, para o Correio, visões do futuro distópico (na animação), nem tão distantes da realidade, com crise climática e  crise hídrica. "Estamos ainda embarcando numa mistura de religião e política (...) e, recentemente, namoramos com a tirania — o que precisa ser punido", resumiu.

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Palavra de especialista

"Não acho que seja uma ilusão pensarmos que estamos chegando em Hollywood, como demonstrou a conquista do filme Ainda estou aqui. A gente está há tantos anos apresentando um trabalho com continuidade. Com nossa produtora (Gullane) já estivemos em competição no Festival de Cannes, três vezes; outras vezes tantas em Berlim, em Veneza, chegamos à lista de corte do Oscar, assim como tantos outros colegas de filmes e projetos brasileiros. Eu acho que as plataformas, assim como as distribuidoras internacionais, descobriram cada vez mais que o mercado brasileiro é um mercado estruturante, muito grande, que é um dos lugares do mundo que podem crescer do ponto de vista de audiência e realmente tem uma onda de investimento em conteúdos locais, para que se domine, para que se faça conteúdo a serem assistidos nesses mercados e que possam, depois, extravasar para fora. A Gullane tem alguns projetos em coprodução com outros países, já há um bom tempo. No âmbito do Platino, tivemos altíssimo nível em todas as séries que estão aqui. Sem contar dos filmes que estão aqui, e que só engrandecem a participação do Brasil. Estamos ao lado de projetos que são tão destacados no mundo todo, e especialmente no mundo ibero-americano"

Caio Gullane, produtor de cinema e tevê

postado em 01/05/2025 18:57 / atualizado em 01/05/2025 18:59
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