Ciência e Saúde

Invisibilidade pode ser arma contra fobia social, defende estudo

O estudo utilizou um total de 125 participantes, com 25 voluntários para cada experiência.Cada um deles foi equipado com um capacete de vídeo ao vivo e em 3D, alimentado por um par de câmeras colocadas ao nível dos olhos

Agência -Presse
postado em 24/04/2015 17:55
Paris - A sensação de ser invisível pode contribuir para diminuir o estresse que algumas pessoas sentem em frente às outras - foi o que descobriu um grupo de pesquisadores, segundo os quais essa ilusão pode ajudar no tratamento da ansiedade social.

Ser invisível é uma aspiração antiga. O filósofo grego Platão narra a história de Giges, que se torna rei graças a um anel que lhe confere invisibilidade. O romance de ficção científica de HG Wells, "O Homem Invisível", atribui essa faculdade a um cientista louco, e Harry Potter, o aprendiz de feiticeiro de J.K. Rowling, tem uma capa com esse poder.


Nos últimos anos, alguns progressos foram alcançados graças à pesquisa com metamateriais capazes de manipular as ondas com "camadas de invisibilidade", formadas por materiais artificiais que permitem desviar os raios de luz que chegam em um objeto, tornando-o invisível.

"Embora os dispositivos capazes de esconder completamente um corpo humano ainda não tenham sido desenvolvidos, não é irreal pensar que um dia vai ser possível, e é melhor ir se preparando", explicou à AFP Arvid Guterstam, co-autor de um estudo publicado na quinta-feira no Scientific Reports, da conceituada revista científica Nature.

"Queremos estudar as consequências psicológicas de tal invisibilidade para que estes dispositivos possam ser usados %u200B%u200Bcom segurança", acrescentou o pesquisador em neurociência do Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia).

O estudo utilizou um total de 125 participantes, com 25 voluntários para cada experiência.Cada um deles foi equipado com um capacete de vídeo ao vivo e em 3D, alimentado por um par de câmeras colocadas ao nível dos olhos. Apontando para baixo, as câmeras filmavam o vazio.

Em seguida, os pesquisadores pediram aos voluntários que se levantassem e olhassem para baixo. Em vez de ver seu próprio corpo, as pessoas viam um espaço vazio.


O bem e o mal

Para aumentar a ilusão, um pesquisador toca diferentes partes do corpo do participante com um grande pincel apoiado com uma mão, enquanto a outra faz um movimento no vazio. Num intervalo de 30 segundos, a maioria dos participantes teve a sensação de que seu corpo havia se tornado invisível.

"Para verificar se a ilusão funcionou, demos uma facada no corpo invisível enquanto medimos a tensão gerada pelo gesto", contou Arvid Guterstam. "As pessoas transpiraram mais, o que sugere que o cérebro da pessoa percebeu este gesto no vazio como uma ameaça direta contra seu próprio corpo", acrescenta.

Em um dos experimentos, os pesquisadores expam os participantes a uma situação social estressante na presença de uma plateia de desconhecidos.

Os cientistas constataram que a frequência cardíaca dos participantes e seu nível de estresse declarado foi menor quando a pessoa tinha a sensação de ser invisível do que quando ela se percebia visível pelos demais.

"Se o cérebro percebe o corpo como invisível, supõe que o mesmo também é verdadeiro para outros observadores, o que reduz o estresse relacionado a ser o centro das atenções", explicou Guterstam.

A ansiedade social pode aparecer em diferentes graus ao longo da vida em cerca de dez por cento das pessoas, de acordo com o pesquisador.

A psicoterapia cognitiva e comportamental (CBT, por sua sigla em inglês) é o tratamento não-medicamentoso mais comum para tratar esta fobia social. O trabalho consiste em acostumar o paciente a situações cada vez mais estressantes.

Algumas destas terapias utilizam simulações de realidade virtual.

"Acreditamos que dar a ilusão de ser invisível poderia ser usado como um primeiro o para essas terapias baseadas em realidade virtual", conta Guterstam. "Isso poderia ajudar pacientes cuja ansiedade vem de emoções negativas relacionadas a seu próprio corpo".

Henrik Ehrsson, do Instituto Karolinska, recomenda o desenvolvimento de novos estudos para verificar se os dispositivos futuros de invisibilidade "não nos fazem perder nosso senso de certo e errado".

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação