Eliminatórias

Capitão sem faixa: Casemiro incorpora discurso do general Ancelotti

Apegado aos guerreiros em todos os clubes por onde ou, comandante italiano tem o volante como um dos líderes da infantaria que enfrenta o Paraguai nesta terça-feira (10/6)

Carlo Ancelotti orienta Casemiro, como nos velhos tempos no relacionamento vitorioso no Real Madrid -  (crédito: Nelson Almeida/AFP)
Carlo Ancelotti orienta Casemiro, como nos velhos tempos no relacionamento vitorioso no Real Madrid - (crédito: Nelson Almeida/AFP)

São Paulo — Na edição deste domingo (8/6) do Correio, mostramos que o general Carlo Ancelotti conta com o protagonismo do "pracinha" Raphinha para vencer a guerra contra a crise sem precedentes na Seleção Brasileira e classificá-la para a Copa de 2026 antecipadamente, nesta terça-feira (10/6), às 21h30, na Neo Química Arena, pela antepenúltima rodada das Eliminatórias.

Coincidentemente, o volante Casemiro aderiu à metáfora. Ele é mais um alistado na força expedicionária do italiano: "Eu sou um soldado, como todos os jogadores, um soldado do treinador, da Seleção Brasileira, queremos fazer o melhor", afirmou o capitão sem braçadeira, ontem, no Centro de Treinamento Joaquim Grava, casa do Corinthians.

A analogia militarista é do próprio técnico Carlo Ancelotti. Um dos trechos do livro escrito por ele fala sobre soldado raso. "Os jogadores que são vistos como soldados rasos, burros de carga, ou carregadores de piano, são aqueles com quem tenho mais proximidade. Esse tipo de jogador tem a personalidade que mais aprecio, porque quando eu atuava, tinha mais ou menos as mesmas características e capacidade", conta em Liderança Tranquila.

Segundo Ancelotti, os soldados rasos são aqueles que dão a vida — sempre — pelo time em todos os jogos e nos treinamentos. "Eles se motivam sozinhos, o tempo todo", conceitua o treinador. "Recordo-me desses jogadores do mesmo modo que me lembro das grandes estrelas, porque sem eles não existem as estrelas", filosofa o comandante do Brasil.

Carletto cita vários soldados rasos comandados por ele na carreira. Na Reggina, Leonardo Colucci. No Parma, Roberto Sensini. Na Juventus, Antonio Conte e Edgard Davids. Segundo ele, esses dois, de muita personalidade e mentalidade de combatentes.

Na agem pelo Chelsea, ele gostava de se aproximar de Ivanovic e John Terry. O zagueiro brasileiro Alex ganhou esse status no Paris Saint-Germain. Gattuso e Seedorf tinham esse papel na era dourada do Milan sob o comando de Carlo Ancelotti. "Líderes são escolhidos pelo grupo, não pelo técnico ou pelo presidente. A personalidade é normalmente mais importante do que a técnica", prega Carlo Ancelotti no capítulo sobre soldados.

Havia expectativa de que Casemiro fosse o capitão da Seleção na nova gestão, mas o volante de 33 anos tem histórico de líder sem braçadeira. Ele jamais foi o dono absoluto da faixa nos clubes nem na Seleção. No Real Madrid, respeita-se o mais antigo do elenco. Houve pedido para que assumisse o posto no Manchester United, mas ele não considerava o momento adequado. Na Seleção, participava do rodízio de líderes do Tite. Ele não foi escolhido capitão nem mesmo no título do Mundial Sub-20 de 2011. Era Bruno Uvini.

O desapego de Casemiro da faixa de capitão vem justamente do perfil definido por Carlo Ancelotti de soldado raso. "Primeiro, o lado de campo. Para mim, é o mais importante. Fazer as coisas bem dentro de campo, impor respeito, ar experiência. Claro, quando você trabalha com o treinador e já sabe a linha de trabalho dele, facilita mais. Estou há mais tempo aqui, tenho mais voz ativa no vestiário. O meu lado já é um pouco mais fácil", diz.

Classificação à vista

Uma vitória contra o Paraguai, combinada com triunfo do Uruguai, em Montevidéu, diante da Venezuela, classificam o Brasil para a Copa de 2026, mas Casemiro não considera fácil o antepenúltimo duelo nas Eliminatórias. O adversário está invicto em nove jogos sob a batuta do técnico argentino Gustavo Alfaro e à frente do Brasil na classificação.

"Vai ser um jogo de posse de bola e o Paraguai querendo jogar na transição. Um jogo mais de equilíbrio mental, saber o momento certo. Se o Brasil pensar em jogar defensivamente, não vai saber. A característica do Brasil é ofensiva. Em relação ao último jogo, não sofremos gol, tivemos solidez defensiva. Agora, é para dar um o mais, atacar melhor. Temos que priorizar a parte ofensiva, ser mais agressivo nesse último terço do campo", adverte.

Cinco tópicos com Casemiro

Recomeço
“A partir do momento em que se fica de fora, a gente fica triste. É um propósito de todos os jogadores de todos os países, principalmente no Brasil. São decisões. O antigo treinador (Dorival Júnior) tinha que escolher de 23 a 26 jogadores. Eu não estava no plano, mas nunca deixei de trabalhar, de fazer as coisas bem para voltar à Seleção.”

Manchester United
“Foi um dos anos mais importantes da minha carreira. Fiquei fora por escolha do treinador, mas nunca deixei de trabalhar. Esse é meu grande êxito. É um dos anos mais importantes da minha carreira, se não for o mais. O treinador não contava comigo e agora me elogia. Foi um ano de mais resiliência, um dos anos mais felizes e vencedores da minha carreira. Feliz por voltar à Seleção, por conhecer o treinador, mas por voltar com bom futebol, que é o mais importante.”

Carlo Ancelotti
“Trabalhei com ele na primeira e na segunda agem pelo Real. Sem dúvida, um dos pontos fortes dele é o lado humano, essa relação com os jogadores, essa proximidade e facilidade de lidar com os jogadores. Ele está sendo uma pessoa humilde, apesar do currículo que tem no futebol. Esse lado humano, essa facilidade de lidar com os jogadores. É um dos pontos fortes. Sobre títulos, falaríamos por dias do que ele já fez, mas o lado humano é o que me surpreende todos os dias.”

Lições do Mister
“Temos que desfrutar desses momentos. O Brasil precisa de pessoas assim. São muitos anos, ele (Carlo Ancelotti) contou um pouco da história dele. Começou em 1992 como treinador. São muitos anos no alto nível, na pirâmide mais alta. Não só jogadores, mas vocês jornalistas, povo, futebol, diretores, equipes: vamos aproveitar. Pessoas assim favorecem o futebol. Já que temos oportunidade de ter uma pessoa desse nível, vamos aproveitar, dar respeito. E vamos desfrutar. É uma grande figura, ícone do futebol mundial.”

Neymar
“O que falar do Neymar? É um jogador fora da curva. Para mim, ele é top 3: Neymar, Cristiano Ronaldo e Messi. A gente sabe que ele precisa estar bem fisicamente. Estando bem fisicamente, é o melhor disparado. E o treinador (Carlo Ancelotti) falou isso. Cabe ao Neymar voltar a estar bem fisicamente, voltar a estar feliz, ele é necessário na Seleção e em qualquer clube do mundo. Mas precisa estar bem fisicamente e mentalmente. Esse cara bem, é melhor que qualquer um, disparado. Precisamos de um jogador dessa qualidade. Ele bem, vai fazer muito a diferença. É jogador de outro mundo.”

MP
postado em 09/06/2025 06:00
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