Ao se tornarem mães, muitas mulheres sentem-se pressionadas a anular a própria sexualidade. A sociedade ainda espera delas uma dedicação total ao cuidado, o que pode levar à supressão de outros aspectos de sua identidade
Neste Dia das Mães (11/5), é importante lembrar que essas figuras são mais do que cuidadoras: são pessoas com desejos, sonhos, vontades e receios
Segundo Alessandra Araújo, sexóloga e psicóloga, 'o corpo a por alterações hormonais intensas — como a queda de estrogênio e o aumento da prolactina — que podem reduzir a libido, causar ressecamento vaginal e afetar a resposta sexual'
Muitas mulheres am a enxergar seus corpos prioritariamente como instrumentos de cuidado e nutrição, o que obscurece a dimensão erótica
'O cansaço e as exigências do cuidado com o bebê influenciam diretamente no desejo sexual', destaca Alessandra
Há um sentimento comum de culpa por desejar prazer durante a maternidade, resultado de uma cultura que idealiza a mãe como figura abnegada
'A sexualidade, que já é atravessada por tabus sociais, torna-se ainda mais silenciada nesse novo contexto', afirma a especialista
'Devemos entender que não deixamos de ser a mulher que éramos antes. Não sentir culpa por ter desejo é um ótimo começo. Não sentir culpa por não querer ser somente mãe. Somos humanas e temos desejos antes e depois da maternidade', argumenta Scheila de Aguilar, mãe de dois homens já adultos
'Minha sexualidade ficou guardada em algum potinho no armário por todo esse tempo. Minha cabeça e meu corpo estavam ocupados em fazer tudo dar certo e superar as expectativas de todos ao meu redor, inclusive as minhas', relata Fabiana Mesquita, que enfrentou depressão pós-parto
'Sinto que a sociedade espera que a mãe seja uma santa, que ela só tenha transado para ter os filhos e depois acabe com isso', diz Gabriela Ferreira, mãe de duas menininhas. 'Mas o corpo que eu enxergo ainda não é um corpo que eu me sinto confortável'
Giovana Santana, mãe de um neném de 9 meses comenta sobre mudanças no corpo: 'A barriga fica flácida, as estrias causam uma insegurança, não parece que meu parceiro vai sentir tesão'
O puerpério é uma fase delicada, marcada por intensas mudanças emocionais e identitárias — mesmo em casos de perda gestacional ou neonatal
Alessandra, que é mãe de anjo, lembra: 'O luto imobiliza a mulher em múltiplas dimensões, inclusive na relação com o próprio desejo'
A sexóloga reforça que o desejo sexual é legítimo: 'Faz parte da saúde emocional e não precisa ser sacrificado em nome da maternidade'
Entre as estratégias indicadas estão o autoconhecimento corporal, a reconstrução da imagem sem pressões estéticas e a retomada da intimidade de forma gradual. Confira dicas da especialista:
Seu corpo mudou — e isso é natural. Em vez de pressionar-se para 'voltar a ser como antes', permita-se descobrir quem você é agora
A intimidade não precisa começar pelo sexo. Trocas de afeto, massagens, carícias e abraços longos ajudam a reaproximar o casal. O corpo precisa sentir-se seguro e desejado para reencontrar o prazer
O cansaço real e emocional é grande, mas buscar pequenos momentos de reconexão pode fazer diferença. Pode ser um banho mais demorado, uma música que desperte sensações, ou uma fantasia mental que alimente seu imaginário erótico
Falar sobre o que está sentindo, sem medo ou vergonha, fortalece o vínculo. O diálogo sexual é tão importante quanto o toque. Nomear emoções, limites e vontades abre espaço para intimidade emocional e física
O retorno à vida sexual não precisa seguir o modelo anterior. Pode incluir novas formas de prazer, com ou sem penetração. Redefinir o que é sexo para você nesse momento é libertador e respeita seus ritmos
Procure seu ginecologista para avaliar questões físicas como lubrificação, dor ou desconforto. Em muitos casos, um simples cuidado hormonal ou o uso de lubrificantes podem fazer toda a diferença
A maternidade pode trazer à tona conflitos com a identidade, autoestima e história pessoal. A psicoterapia é um espaço potente para elaborar essas questões e reconectar-se com seu desejo de forma mais livre e consciente