Fitness e Nutrição

Ativas e saudáveis: a prática física como aliada da maternidade

A vida materna é um desafio e tanto. Para tentar driblar esses obstáculos, as mamães engatam no universo fitness buscando benefícios psicológicos e físicos

Segundo Mariana, a maternidade não a fez parar de praticar exercícios -  (crédito: Arquivo pessoal)
Segundo Mariana, a maternidade não a fez parar de praticar exercícios - (crédito: Arquivo pessoal)

Ser mãe é uma tarefa árdua, recheada de desafios. Isso, sobretudo, quando os filhos ainda necessitam de atenção praticamente integral. No entanto, diante de tantos obstáculos, é normal que a mulher precise de um tempo para si, especialmente para fortalecer sua saúde. Assim, elas entram no universo fitness e dividem essa rotina com a vida materna, mostrando que é possível, sim, conciliar essas duas realidades em busca de benefícios físicos e psicológicos.

E não importa qual seja o momento, é necessário estar com o corpo ativo. Durante a gestação, no
pós-parto ou anos depois, os exercícios são fundamentais em diversos aspectos. Segundo a educadora física Dani Borges, a atividade física na gravidez contribui para a saúde da mãe e do bebê. "Ela ajuda a preparar a mulher para as mudanças fisiológicas desse período, melhora a resistência cardiovascular e muscular, impactando positivamente no controle do ganho de peso, facilitando o trabalho de parto", afirma.

Além disso, tais hábitos são primordiais para a redução de dores lombares, melhora da postura, menor risco de diabetes gestacional e hipertensão, auxiliando na redução de inchaços e melhorando a circulação. "A mulher também tende a dormir melhor, sente mais disposição ao longo do dia e tem uma recuperação pós-parto mais rápida", enumera Dani. De acordo com a profissional, os exercícios mais recomendados são os de baixo impacto e que respeitam as mudanças no corpo da gestante.

"Caminhadas, natação, pilates, alongamentos, treino de força (musculação) e atividades específicas para gestantes são ótimas opções. Já os exercícios de alto impacto, com risco de queda, com manobras bruscas ou que envolvam prender a respiração devem ser evitados. Abdominais tradicionais também devem ser evitados ou suspensos conforme o avanço da gestação para evitar uma diástase maior do que a fisiológica e lesões como hérnia", acrescenta.

Quase uma terapia

É natural que muitas mulheres, pelo prazer de uma vida mais saudável, comecem no universo fitness antes mesmo de maternar. Esse é o caso de Michelle Moura, 29 anos, que entrou para o crossfit antes de dar à luz Heitor, quase uma década atrás. Contudo, no meio do caminho, também se apaixonou pela musculação e adora uma corrida de rua como ninguém. 

"Gosto da sensação de saber que o treino me traz, isso impacta positivamente no meu bem-estar físico e mental, mas conciliar com a maternidade exige organização. Sem contar que trabalho em hospital, o que não deixa de ser corrido, mas vejo que é um momento meu, essencial para que eu possa estar bem comigo mesma e, consequentemente, ser uma boa mãe", completa.

O treino, para ela, é quase uma terapia, refletindo diretamente em sua relação com o filho, hoje com 9 anos. De alguma forma, esses hábitos também são necessários para que Michelle seja um exemplo de saúde, levando o pequeno a seguir seus os quando chegar o tempo certo. "Sinto que ele já está no caminho comigo", brinca a técnica de enfermagem.

Até aqui, os dois lados de Michelle se complementam bem. Mais do que isso, sente com o ar dos dias que essa rotina, apesar de dura, traz enormes benefícios, tanto no agora quanto no longo prazo. "O treino alivia o estresse e a parte mental. Melhora meu humor e me faz ter muita disciplina", ressalta.

Michelle sonha em ser um grande exemplo fitness para o filho
Michelle sonha em ser um grande exemplo fitness para o filho (foto: Arquivo pessoal)

Importância do exercício

De acordo com Ângelo Pereira, coordenador de Obstetrícia do Hospital Santa Lúcia e diretor da Sociedade Brasileira de Obstetrícia do DF, todas as mulheres devem ser encorajadas a retornar às atividades físicas após o nascimento dos filhos. "Para o parto vaginal sem complicações, a paciente pode retornar a prática de exercícios físicos mais cedo, por volta de 15 dias depois. Já em caso de cesariana, orientamos o retorno com 30 dias, com exercícios mais leves, como caminhada, bicicleta e musculação com pouca carga."

ados 45 dias do parto, o profissional destaca que qualquer exercício físico está liberado. Após o parto, a atividade física é fundamental para o bem-estar físico e emocional da puérpera. Segundo Ângelo, a prática auxilia na perda do peso adquirido ao longo da gestação, na melhora da autoestima e na saúde sexual, no controle de doenças pré-existentes, na melhora das dores osteomusculares, além de trazer relaxamento e redução da ansiedade

"O puerpério é uma fase desafiadora na vida das mulheres. Ter uma hora por dia para o autocuidado, sem a necessidade de cuidar do seu recém-nascido, podendo se relacionar com outras pessoas, fora do ambiente domiciliar, é uma excelente estratégia para a prevenção da depressão pós-parto", detalha o profissional. E caso esteja nesse universo durante a gestação, saiba que as atividades físicas melhoram — e muito — a prevenção de doenças nesse período.

As gestantes que são adeptas a essa vida ainda terão menos complicações ao longo da gravidez, o que garante menor taxa de partos prematuros e todas as complicações da prematuridade para os bebês. "Recomendamos uma prática regular de pelo menos três vezes por semana de atividade física para praticamente todas essas mulheres. A duração de cada sessão deve ter em torno de 50 minutos, com intensidade moderada, não devendo ultraar uma hora", finaliza.

Uma paciente que pratica atividade física regularmente, segundo Ângelo, têm maior condicionamento físico, melhor aptidão cardiorrespiratória, peso corporal adequado, maior elasticidade e força muscular. Geralmente apresentam ainda maior foco, concentração e determinação. Qualidades que podem ajudar e muito no parto normal, que na maioria das vezes é um processo demorado, cansativo e doloroso. 

Duas em uma só

Desde criança, Mariana Pimentel, 31, gostava de praticar esportes na escola, jogava handebol três vezes por semana, andava de bicicleta e brincava bastante. Na adolescência, esse apreço pelo corpo em movimento não mudou. Assim, começou a treinar e nunca mais parou. "Hoje, adulta e mãe de dois, continuo com a musculação e a corrida. Durante a gravidez, substituí a corrida pelo muay thai e também incluí o spinning na rotina. A maternidade não interrompeu esse estilo de vida — apenas me fez adaptar", comenta a advogada.

Para ela, o que mais lhe atrai nesse universo é a qualidade de vida que ele proporciona. Sente seu corpo mais disposto, quase não adoece, dorme melhor e, naturalmente, a a cuidar mais da alimentação. "Tudo isso se reflete diretamente na forma como vivo — por mim e pelos meus filhos", acredita. Mãe de um filho de 2 anos e de outro com 6 meses, ela comprou um carrinho próprio para correr com eles. 

"Em alguns treinos no parque, eles vão comigo. Aproveitamos para tomar sol, observar a natureza, conversar e criar memórias. É um momento nosso, cheio de presença. A maternidade me fez adaptar, mas não abandonar o que me faz bem. E acredito que isso também ensina a eles, desde cedo, o valor de cuidar de si", descreve Mariana. Apesar dos desafios, que incluem a logística de treinos com os cuidados maternos — além do trabalho —, ela não pretende parar por aqui, especialmente porque o impacto é extremamente positivo.

Contudo, outro fantasma que aparece é o da culpa, fazendo-a questionar se, realmente, deveria estar cuidando de si em vez de estar com os pequenos. "Toda mãe, em algum momento, sente culpa — seja por estar trabalhando, treinando, no salão ou até mesmo quando adoece. Comigo não é diferente. Às vezes, bate aquela dúvida: 'Será que eu deveria estar com os meninos agora?' Mas aprendi a respeitar meus momentos e a viver cada um com presença", acrescenta

Assim, nessa dualidade, ela permanece sã e em busca de se tornar um exemplo para eles, sobretudo quando estiverem maiores, independentes e responsáveis. Dessa forma, crê que, fazendo para ela mesma, também está ajudando os filhos. "A vida fitness me dá alegria, clareza mental e equilíbrio emocional. O exercício também é um espaço meu. Eu me sinto mais centrada, leve e capaz de enfrentar os desafios do dia a dia", complementa Mariana.

Mariana é apaixonada por uma atividade física
Mariana é apaixonada por uma atividade física (foto: Arquivo pessoal)

  • Mariana e o filho mais velho, João Pedro, hoje com dois anos
    Mariana e o filho mais velho, João Pedro, hoje com dois anos Foto: Arquivo pessoal
  • Michelle Moura é apaixonada por uma corrida de rua
    Michelle Moura é apaixonada por uma corrida de rua Foto: Arquivo pessoal
  • Michelle sonha em ser um grande exemplo fitness para o filho
    Michelle sonha em ser um grande exemplo fitness para o filho Foto: Arquivo pessoal
  • Mariana é apaixonada por uma atividade física
    Mariana é apaixonada por uma atividade física Foto: Arquivo pessoal
PE
postado em 11/05/2025 06:00
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