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Casa sustentável: materiais, energia e consciência na construção

Optar por um imóvel sustentável vai muito além da moda: é unir conforto, economia e respeito ao meio ambiente com escolhas inteligentes desde a construção até os hábitos do dia a dia

Tijolos ecológicos são feitos de solo, cimento e água e evitam o uso de fornos, reduzindo a emissão de gases poluentes -  (crédito: Reprodução/Pinterest)
Tijolos ecológicos são feitos de solo, cimento e água e evitam o uso de fornos, reduzindo a emissão de gases poluentes - (crédito: Reprodução/Pinterest)

A preocupação com o meio ambiente e nosso papel na preservação da natureza são pautas discutidas há muito tempo. Nossas ações, onde moramos e o que consumimos causam impacto no planeta, e escolher como realizar essas tarefas, visando o cuidado com o meio ambiente, é algo mais do que necessário. E, com o avanço da tecnologia, isso se tornou bem mais fácil. 

A escolha de uma casa sustentável vem ganhando visibilidade e despertando interesse também pelas muitas vantagens aos moradores. Em termos simples, o planejamento vem desde a definição correta do posicionamento no terreno até a escolha de materiais de construção e de sistemas construtivos de baixo impacto. O uso consciente de recursos como água e energia, a garantia da qualidade do ar interno, a integração com a natureza e, se possível, a produção local de alimentos são aspectos pensados na projeção. 

Mas nem toda casa precisa ser construída do zero para ser sustentável. Algumas mudanças podem ser feitas e trazer diversas vantagens para a moradia e o meio ambiente. Isso porque é essencial adotar um conjunto de práticas que vão além da estética ou do uso de tecnologias isoladas.

Os materiais de construção 

A escolha dos materiais a serem utilizados na construção pode influenciar diretamente no impacto ambiental da obra, na saúde dos moradores e também na durabilidade da casa. 

A arquiteta e bioconstrutora Vika Martins explica que o uso de materiais inadequados pode exigir grande consumo de energia durante a produção e o transporte. E, além de  liberar substâncias nocivas, pode apresentar baixa resistência ao tempo e dificultar tanto a reciclagem quanto o descarte correto.

"Quando pensamos em construções naturais e sustentáveis, alguns materiais se destacam. O bambu, por exemplo, é um recurso renovável, leve, resistente e de crescimento rápido. A madeira certificada, proveniente de manejo florestal responsável, ajuda a conservar as florestas", detalha. 

Vika também explica que existem tipos de tijolos mais sustentáveis, como os ecológicos feitos de solo; cimento e água que evitam o uso de fornos, reduzindo a emissão de gases poluentes; ou os tijolos adobe, composto por terra crua, água e fibras naturais, que oferecem ótimo conforto térmico; e o superadobe, que utiliza sacos de terra compactada e materiais locais, sendo uma opção ível e de baixo impacto ambiental.

Existe ainda a possibilidade do uso de concretos reciclados, que utilizam resíduos de construção, como brita e areia, diminuindo a necessidade de extração de recursos naturais. Já entre os acabamentos, as tintas  minerais sem compostos orgânicos são uma alternativa mais saudável. Ademais, a utilização de materiais reciclados, como madeira de demolição, plástico e vidro reaproveitados, reforça o compromisso com a sustentabilidade. 

Água e energia 

Uma das maiores preocupações ao falar em meio ambiente é o consumo de água e energia, e quando se trata de casa, pensar nas contas ao fim do mês é inevitável. Mudar os hábitos ou projetar uma casa pensando na redução de gastos, tornou-se inevitável para muitos. Existem várias formas eficazes de fazer essa redução, muitas delas podem ser aplicadas com mudanças simples.

Vika ensina que uma das principais estratégias é a captação e o reaproveitamento da água da chuva, por meio da instalação de sistemas que coletam a água do telhado e a direciona para usos como irrigação de jardins, limpeza de áreas externas e até descarga de vasos sanitários, desde que haja o devido tratamento.

"Outra medida importante é o uso de torneiras e chuveiros com redutores de vazão, que economizam sem comprometer o conforto", diz a arquiteta. "É essencial ainda monitorar e corrigir vazamentos com frequência, verificando torneiras, canos e válvulas para evitar desperdícios silenciosos."

Escolher plantas nativas e adaptadas ao clima local para se ter em casa também pode ajudar na redução de gastos, pois essas espécies requerem pouca ou nenhuma irrigação. A água da máquina de lavar roupa também pode ser reutilizada em atividades que não exigem água potável, como lavar o quintal. 

No quesito energia, um projeto bioclimático bem elaborado pode ser o primeiro o, pois aproveitar a iluminação e a ventilação naturais diminui a necessidade de luz artificial e ar-condicionado.

A arquiteta Maria Clara Girão fala sobre a vantagem de aplicar a técnica da ventilação cruzada na residência — um método que permite o fluxo natural do ar através dos ambientes, utilizando aberturas posicionadas em paredes opostas ou adjacentes para criar uma corrente de ar constante, promovendo a renovação do ar interno. Isso é essencial para a diminuição da sensação de calor.

Além de melhorar a qualidade do ar interno, reduz a necessidade de climatização artificial (como ar-condicionado e ventiladores), o que diminui o consumo de energia e contribui para a sustentabilidade do projeto. 

Uma das formas de redução mais conhecidas e usadas atualmente é a instalação de painéis solares fotovoltaicos, as famosas placas solares, que permitem gerar energia limpa e renovável. Além de serem uma solução eficiente para o aquecimento da água, diminuindo o consumo de eletricidade ou gás, pode levar a uma queda de até 95% na conta de luz, segundo a Neoenergia. 

A escolha de eletrodomésticos com selo de eficiência energética, como o Procel no Brasil, contribui significativamente para o uso racional da energia. Lâmpadas de LED são uma alternativa econômica e durável em relação às tradicionais. Sensores de presença ajudam a evitar o desperdício, ativando as luzes apenas quando necessário.

Telhado e revestimento 

Um telhado bem isolado termicamente contribui diretamente para o conforto dos ambientes internos, reduzindo a necessidade de aquecimento ou resfriamento artificial, tornando-se outro aliado na redução de gastos. Além disso, ajuda na captação de água da chuva, já que a forma e o tipo de material utilizado influenciam na eficiência desse processo.

Os telhados verdes, cobertos por vegetação, são uma ideia não muito utilizada, mas oferecem uma série de benefícios, como isolamento térmico e acústico, absorção de água da chuva, melhoria na qualidade do ar e aumento da biodiversidade nas áreas urbanas. Optar por um telhado verde, com a inclinação e o posicionamento corretos para instalação de painéis solares, significa redução e sustentabilidade em um só projeto. 

Outra ideia é utilizar telhados com cores claras ou materiais refletivos que ajudam a diminuir a absorção de calor, o que contribui para manter a casa mais fresca e ainda reduz o efeito de ilha de calor nas cidades.

Os revestimentos também desempenham um papel importante. Entre as opções naturais, é possível utilizar bambu, madeira de demolição, cortiça e pedras extraídas de forma responsável, que trazem beleza e baixo impacto ambiental.

Vika diz que há também a possibilidade do uso dos revestimentos reciclados, como cerâmicas, azulejos e até produtos feitos com plástico reaproveitado, que ajudam a reduzir a geração de resíduos.

"No caso das tintas, as versões ecológicas são as mais indicadas — como as tintas de terra, minerais ou à base de água, com baixos teores de compostos orgânicos voláteis (COVs), que são menos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente", detalha. 

Ações diárias

Pequenas mudanças nos hábitos do dia a dia podem ter um impacto significativo na construção de um estilo de vida mais sustentável em casa. A economia de água, por exemplo, pode ser feita com gestos simples, como fechar a torneira ao escovar os dentes ou lavar a louça, tomar banhos mais curtos e usar máquinas de lavar roupa ou louça sempre com a carga completa.

Da mesma forma, é possível reduzir o consumo de energia apagando as luzes ao sair dos cômodos, retirando aparelhos da tomada quando não estiverem em uso — já que o modo stand-by também consome energia — e evitando abrir a geladeira sem necessidade.

Separar corretamente o lixo reciclável, destinando papel, plástico, vidro e metal à coleta seletiva, também é uma prática valiosa. O aproveitamento dos resíduos orgânicos por meio da compostagem transforma restos de alimentos em adubo natural.

Para reduzir o uso de descartáveis, vale investir em garrafas reutilizáveis, sacolas de pano, canecas e talheres próprios; assim como usar produtos de limpeza ecológicos, que sejam biodegradáveis e feitos com ingredientes naturais.

Por que ter uma casa sustentável? 

Escolher ter uma casa sustentável impacta positivamente tanto o indivíduo quanto o coletivo. Vika Martins diz que diversos estudos mostram uma significativa redução do impacto ambiental por meio do uso consciente de recursos naturais, da minimização da geração de resíduos e da diminuição da emissão de poluentes em todas as etapas do ciclo de vida da construção.

"Em um horizonte de longo prazo, a economia financeira se torna evidente, na diminuição das despesas com água e energia", acrescenta. "Investir na qualidade do espaço habitado proporciona ambientes mais saudáveis, com conforto térmico e uma qualidade do ar interior livre de substâncias nocivas."

No mercado imobiliário, as casas sustentáveis vêm apresentando uma maior valorização, por conta da crescente demanda por estilos de vida mais saudáveis. E é fundamental para garantir um futuro mais justo e equilibrado para as futuras gerações.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

  • Painéis solares fotovoltaicos permitem gerar energia limpa e renovável
    Painéis solares fotovoltaicos permitem gerar energia limpa e renovável Foto: Reprodução/Pinterest
  • Escolher por plantas nativas e adaptadas ao clima local para se ter em casa pode ajudar na redução de gastos, pois essas espécies requerem pouca ou nenhuma irrigação
    Escolher por plantas nativas e adaptadas ao clima local para se ter em casa pode ajudar na redução de gastos, pois essas espécies requerem pouca ou nenhuma irrigação Foto: Fotos: Reprodução/Pinterest
  • Optar por janelas e agens que permitem a ventilação e a iluminação natural reduz o gasto de energia
    Optar por janelas e agens que permitem a ventilação e a iluminação natural reduz o gasto de energia Foto: Reprodução/Pinterest
postado em 04/05/2025 06:00 / atualizado em 04/05/2025 06:00
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