Na campanha Março Lilás, uma preocupação: o câncer de colo de útero é o que
mais mata mulheres de até 36 anos no Brasil. A vacina contra o HPV
e o uso de preservativo são os principais meios de prevenção
As influenciadoras Mariana Xavier,Lidi Lisboa, Marcela Mc Gowan, Vivi Cake, Mirelle Moschella, Beatriz Souza e Fernanda Lima estiveram presentes no evento - (crédito: Reprodução/ Junior Rosa)
O câncer de colo de útero é o que mais mata mulheres de até 36 anos no Brasil. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que 19 brasileiras morrem diariamente vítimas da doença. É também o segundo tipo de tumor com mais mortes entre mulheres até 60 anos, seguido apenas do de mama. Não à toa, este mês, o Março Lilás, é dedicado à conscientização sobre esse tipo de câncer, que pode ser totalmente prevenido.
"No Brasil, temos um conhecimento muito grande sobre câncer de mama, mas o de colo de útero ainda é desconhecido por muitas mulheres. Por isso, tem-se um mês marcado, para a gente se conscientizar sobre a existência, entender o que tem que ser feito e o que podemos fazer para impedi-lo", enfatiza Marcela Mc Gowan, médica ginecologista e ex-participante do Big Brother Brasil.
Ela participou do lançamento da campanha promovida pela MSD Brasil, empresa global que atua no desenvolvimento de vacinas e medicamentos, realizado em São Paulo. O objetivo do evento foi quebrar alguns tabus sobre a doença, além de informar e alertar sobre o câncer, que é o tipo que mais acomete mulheres jovens.
A modelo e apresentadora Fernanda Lima, embaixadora do evento e engajada na causa, comentou sobre a importância de iniciativas para trazer visibilidade e uma melhor disseminação de informação: "Eu acho que quando a gente faz uma comunicação carinhosa e verdadeira, conseguimos chegar ao maior número de pessoas. E se eu conseguir influenciar, impactar uma pessoa com essa informação, já me sinto vitoriosa".
A campanha de conscientização e prevenção sobre o câncer de colo de útero foi lançada na presença da embaixadora da campanha, Fernanda Lima, médicos, especialistas e um time de influenciadoras
(foto: Reprodução/ Junior Rosa)
HPV
O câncer de colo do útero está diretamente relacionado à infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) — responsável por 99% dos casos, segundo o Inca. A principal forma de contaminação por esse vírus se dá por exposição sexual, que pode ocorrer mesmo na ausência de penetração. Mas essa não é a única forma de contágio: pode-se contrair o HPV por meio do contato direto com pele ou mucosa infectadas.
De acordo com Fabiano Serra, médico ginecologista e obstetra, existem tipos virais de HPV, que podem provocar desde verrugas até lesões precursoras de câncer — não apenas o de colo de útero, mas também outros, como de vagina, de vulva, orofaringe, de pênis e de ânus. "Muitas pessoas pensam que o HPV é um vírus da promiscuidade, que acontece com pessoas que têm muita relação sexual com vários parceiros, mas basta que apenas um parceiro já tenha contraído o HPV", afirma o médico.
Um dos desafios da doença é que tanto o homem quanto a mulher podem estar infectados pelo vírus, mas não apresentarem sintomas. Segundo Fabiano, as primeiras manifestações da infecção pelo HPV surgem em cerca de dois a oito meses, mas podem demorar até 20 anos. "Se fazemos a coleta e tentamos pesquisar o HPV, às vezes, o resultado dá negativo, mas não significa que a pessoa não tenha. O vírus pode estar escondido, incubado, e isso acontece por conta da latência viral."
Disparidade regional
Segundo dados da análise regional realizada pelo INCA, o câncer do colo de útero é o segundo mais incidente nas regiões Norte (20,48/100 mil) e Nordeste (17,59/100 mil), em relação às outras regiões do Brasil, apontando uma disparidade regional entre as mortes. “Esse é um câncer erradicável assim como vários outros relacionados ao HPV e a ainda temos esse número tão alto e tão forte para a gente nomear, que infelizmente é uma disparidade inclusive social”, lamenta Márcia Abadi, diretora médica da MSD Brasil.
Prevenção e métodos de rastreio
A vacinação contra o HPV é a melhor maneira de prevenir o desenvolvimento do câncer de colo de útero. A vacina foi introduzida no Programa Nacional de Imunização Brasileira (PNI), oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em 2014. É um imunizante tetravalente, contra quatro tipos de HPV e, inicialmente, era exclusivo para meninas de 9 a 13 anos. Em 2017, porém, foi estendido para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, recomendação que permanece atualmente.
Isso não quer dizer que pessoas fora dessa faixa não possam se imunizar. Atualmente, a vacina é aprovada em bula para meninos e meninas de 9 a 45 anos. A vacinação na faixa etária indicada pode ser feita gratuitamente em postos de saúde, os que desejam tomar o imunizante, mas ultraaram a idade de 14 anos podem procurar clínicas particulares.
Imunizante pode prevenir contra câncer de útero e no pênis
(foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília)
De acordo com o Ministério da Saúde, de 2019 para 2022, a cobertura vacinal caiu em 11,27% entre as meninas, e 9,39% entre os meninos. "Atualmente, tem um programa temporário de extensão para essa vacina, até os 19 anos. Ela foi criada justamente porque, durante o período de pandemia, várias crianças e adolescentes não foram vacinados", explica Andréa Gadêlha, médica oncologista e presidente do grupo brasileiro de tumores ginecológicos.
Somados à vacina e ao uso de preservativos, os métodos de rastreio são importantes aliados como estratégias de prevenção. Periodicamente, as mulheres devem realizar exame preventivo, que é capaz de detectar lesões pré-câncer. É preconizado pelo Inca que toda mulher a partir dos 25 anos deve fazer o papanicolau a cada três anos, e em casos de presença de lesões, todos os anos.
O método mais eficaz de prevenção é o rastreio pelo DNA do HPV, que tem quatro vezes mais precisão no diagnóstico do que o papanicolau, com base em um estudo conduzido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O exame é similar ao preventivo, uma vez que ambos envolvem a coleta da secreção do colo do útero, com a vantagem de conseguir antecipar e detectar mulheres que tenham um maior risco à doença, proporcionando um diagnóstico e tratamento mais preciso.
A testagem é recomendada a cada cinco anos. Essa mudança traz melhor adesão e facilita o o ao exame, por conta do maior intervalo entre os exames. A tecnologia será implementada no SUS para toda população, seguindo as metas impostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2030, que são aumentar a vacinação contra o HPV para 90% de cobertura; garantir que 70% das mulheres sejam examinadas pelo menos aos 35 e aos 45 anos; e assegurar que 90% das pacientes diagnosticadas com câncer de colo do útero recebam o tratamento necessário.
A prevenção é a principal aliada
(foto: Reprodução/ Pinterest)
Por que março?
De acordo com diretor da unidade de negócios de vacinas privadas da MSD Brasil, Fernando Cirino, a escolha do mês de março para a campanha foi motivada pelas datas comemorativas do mês:
- 4 de março: Dia Mundial da Conscientização sobre o HPV
- 8 de março: Dia Internacional das Mulheres
- 26 de março: Dia Mundial da Prevenção contra o Câncer de Colo de Útero
Superação!
O evento contou com o relato de um caso real. Mirelle Moschella, jornalista e apresentadora da Band, recebeu o diagnóstico de câncer aos 34 anos, já em estágio avançado, no início da pandemia de covid-19. Ela suspeitou e procurou ajuda médica por conta de sangramentos. "Imaginava que seria uma menstruação desregulada, mas que, na verdade, já estava acontecendo há 11 dias. O meu corpo deu um sinal quando eu fui ao banheiro e tive uma hemorragia com coágulos muito grandes, que cabiam na palma da minha mão", relatou.
Segundo Mirelle, receber o diagnóstico foi uma surpresa, já que sempre foi uma pessoa muito ativa, com uma alimentação saudável, com 34 anos e sem filhos. O processo de tratamento da apresentadora foi desafiador: ou por uma histerectomia total — cirurgia da retirada do útero e colo do útero — com sequência de sessões de radioterapia, quimioterapia e, por fim, braquiterapia, método com radiação diretamente no canal vaginal. Tudo isso durante a pandemia.
A importância da vacinação foi ressaltada mais uma vez , já que ela não foi vacinada quando criança por falta de instrução e informação da família: "Na minha cabeça, só adolescentes e crianças receberam essa vacina. Então, como eu já tinha ado dos 30, pensava que a vacina não era para mim. Mas eu fui vacinada e estou com duas doses, indo para a terceira."
Rede de apoio
Receber um diagnóstico de câncer muda completamente a vida do paciente e é um momento de incertezas. O impacto emocional e físico da doença acaba exigindo muito mais do que um acompanhamento médico, mas também um e que vá além dos consultórios e hospitais. E com isso, a rede de apoio entra em ação: familiares e amigos têm um papel importante nessa jornada para tentar tornar essa etapa mais leve possível.
Assim aconteceu com a atriz Mariana Xavier, que foi rede de apoio para a mãe quando ela enfrentou um câncer de colo de útero. "Quando recebemos o diagnóstico, foi um grande susto, porque a minha mãe tinha apenas 54 anos e sempre fez todos os exames regularmente. Felizmente, na época, eu morava com ela e tive toda a possibilidade de ser essa rede de apoio, de acompanhar todo esse tratamento, dar todo o amparo financeiro, físico, emocional, que muita gente não tem."
Para a atriz, é necessário usar toda a sua influência para disseminar informações sobre a doença: "A partir de toda essa informação que tive durante essa vivência com a minha mãe, senti que fazia parte do meu papel social usar minha visibilidade para alertar outras pessoas, e tentar evitar que outras em pelo que a gente ou, tanto a minha mãe como o paciente, quanto eu, como familiar e cuidadora", relatou Mariana.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
* A estagiária viajou a São Paulo a convite da MSD Brasil
Imunizante pode prevenir contra câncer de útero e no pênis
Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília
A campanha de conscientização e prevenção sobre o câncer de colo de útero foi lançada na presença da embaixadora da campanha, Fernanda Lima, médicos, especialistas e um time de influenciadoras
Foto: Reprodução/ Junior Rosa
A prevenção é a principal aliada
Foto: Reprodução/ Pinterest