
O ex-presidente Jair Bolsonaro menosprezou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), apresentada na terça-feira, que o aponta como chefe de uma organização criminosa que articulou um golpe de Estado. Diante de apoiadores no I Seminário Nacional de Comunicação do PL, ontem, desdenhou da possibilidade de ser preso.
"Nada mais tem contra nós do que narrativas. Tudo foi por água abaixo. A mais recente foi essa de golpe. Vão prender o Bolsonaro? Caguei para a prisão", afirmou, sob aplausos e gritos de "mito".
Foi a primeira aparição de Bolsonaro depois que a PGR entregou a denúncia contra ele e 33 pessoas por articular um golpe que pretendia anular o resultado da eleição presidencial de 2022. No planejamento, constava até mesmo a possibilidade de ass Luiz Inácio Lula da Silva, vencedor do pleito; o vice na chapa, Geraldo Alckmin; e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes.
Além da presença de apoiadores e parlamentares da bancada federal do partido na Câmara e no Senado, participaram do encontro do PL representantes de big techs, como X e Google. Em 30 minutos de discurso, Bolsonaro repetiu os argumentos apresentados para desacreditar as investigações da Polícia Federal.
"Quem precisa de 800 páginas para provar é porque não tem o que mostrar", afirmou, em alusão ao relatório apresentado pela PF, com as provas que embasaram a denúncia da PGR.
Bolsonaro convocou seus apoiadores a comparecerem às manifestações organizadas para 16 março — pediu que não levem cartazes. E voltou a acusar, sem provas, que as eleições de 2018 e 2022 foram fraudadas.
O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), reforçou a crítica de Bolsonaro ao atacar a denúncia da PGR. "São acusações absurdas, sem fundamento jurídico, sem o respeito ao devido processo legal. O presidente Bolsonaro não tem foro privilegiado, deveria estar na primeira instância", disse, destoando, porém, da narrativa da extrema-direita de que o país vive uma "ditadura".
"A população brasileira sabe que o país continua sendo um Estado Democrático de Direito, apesar das falências e da constante usurpação do Poder Judiciário sobre outros poderes", observou.
Outro que reforçou as acusações de Bolsonaro contra a PF e a PGR foi o senador Izalci Lucas (PL-DF). "Acho que não tem elementos para ser condenado. Ele vai fazer a defesa e, pela denúncia, não há nada consistente que possa provar que poderia ser condenado. Não trabalhamos com essa hipótese", afirmou.
Prazo maior negado
A defesa de Bolsonaro terá de correr contra o tempo para cumprir o prazo de 15 dias e responder à denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), no âmbito da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado. Na noite de ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou o pedido da defesa do ex-presidente em conceder 83 dias para a apresentação das alegações.
Na decisão, o magistrado destacou que a solicitação carece de requisitos legais e afirmou que os advogados tiveram o ao processo antes mesmo da queda do sigilo. Segundo Moraes, não há base legal para a prorrogação do prazo determinado pelo STF.
"Carece de previsão legal o requerimento de apresentação de defesa prévia após a manifestação do colaborador, uma vez que ainda não existe ação penal instaurada", ressaltou o ministro.
Ao STF, os advogados de Bolsonaro alegaram que o prazo fixado era insuficiente diante da complexidade do caso e da denúncia, que tem 100 mil páginas de documentos. No entanto, Moraes apontou que a defesa do ex-presidente teve o ao processo e, portanto, tempo hábil para começar a elaborar as respostas solicitadas.
"Uma simples consulta ao andamento processual da presente investigação demonstra que os advogados constituídos pelo investigado Jair Messias Bolsonaro sempre tiveram total o aos autos, inclusive retirando cópias e com ciência dos despachos proferidos nestes autos, antes do levantamento do sigilo da investigação", frisou Moraes.
O ministro também autorizou tornar públicos os vídeos da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Os depoimentos do tenente-coronel do Exército foram colhidos, em 2024, pela Polícia Federal. O sigilo dos relatos foi derrubado 24 horas depois da apresentação da denúncia da PGR, mas as mídias não estavam liberadas.
Nas gravações, Cid aparece nervoso, inquieto e até chora ao comentar a divulgação do áudio da filha dele, em que ela falava sobre intervenção militar, com soldados nas ruas, para manter Bolsonaro no poder.
Cid se queixa e diz que, na investigação, foi o único que teve parentes expostos. "A imprensa revirou minha vida toda, revirou até a vida do meu irmão, da minha irmã, que não mora nem no Brasil. Expôs tudo. Expôs áudio da minha filha", criticou.
O militar reitera que Bolsonaro de tudo sabia e participou da tentativa de golpe. Um dos vídeos mostra seu desespero ao ser informado de que voltaria à prisão. Ao ouvir o juiz instrutor Airton Vieira, do gabinete de Moraes, Cid põe a mão esquerda na testa, empurra a caneta esferográfica e se debruça sobre a mesa — depois chegaria a desmaiar. Esse episódio é por conta de áudios, divulgados pela revista Veja, nos quais o militar acusava Moraes de pressioná-lo para dizer o que o ministro queria escutar.
Em outra imagem, Moraes o adverte de que a omissão de informações ameaçava o acordo de delação que fechara com o Ministério Público Federal e a PF. "A maior delas, das obrigações, é falar a verdade. É não se omitir, não se contradizer. Não há na colaboração premiada essa ideia de que 'só respondo o que me perguntam'", salientou. (Com Agência Estado)Saiba Mais

Danandra Rocha
Repórter de políticaFormada pela Faculdade Anhanguera de Brasília, tem experiência em assessoria, televisão e rádio. É repórter da editoria de Política, na cobertura do Congresso.