
Não é a primeira vez que o assunto é tratado por este que vos escreve: o que é realmente importante, o que merece ser relatado? A pergunta é ainda mais complexa para profissionais de comunicação. É arriscado dar atenção demais para coisas que não são tão relevantes. O contrário é pior. Já pensou em esquecer de mostrar algo importante por ter julgado simplório.
Nesta quarta-feira, 17 dias após a morte do papa Francisco, a imprensa mundial se prepara para cobrir o conclave, cerimônia que deve decidir o novo pontífice da igreja católica. O momento, contudo, foi estremecido pela pergunta de um amigo no último fim de semana: "Será que os jornais não estão dando mais importância para essa escolha do que ela merece?".
Na hora disfarcei. "É uma morte marcante". Deu-se o assunto por encerrado. Mas a pergunta me perseguiu por alguns dias. Será que a morte e a escolha do papa não são tão importantes?
Para quem não vive o cotidiano de uma redação, existem alguns requisitos técnicos para tentar responder a essa pergunta. Os chamados de "valores-notícias" definem o quanto uma informação é importante. Alguns exemplos são o impacto, a raridade, a factualidade, o inesperado e a proximidade. Caso tenha pontos nesses critérios, pronto, vale ser noticiado.
Contudo, entender a importância da cobertura da morte do papa Francisco, e da consequente substituição, vai bem além de recursos técnicos. Para responder às perguntas acima de forma clara e objetiva: sim, os próximos dias (ou horas) de conclave merecem toda a atenção de uma cobertura jornalística — não para menos, é provável que grande parte das redações de vários países no mundo estejam reorganizando as equipes para entrar madrugada adentro acompanhando as fumaças no Vaticano, assim como aqui, no Correio.
Quem questiona a importância da morte do papa Francisco e de todo o ritual envolto no caso me parece vítima de um "fenômeno" cada vez mais difundido (e preocupante): as "bolhas". O termo ainda carece de uma designação acadêmica mais técnica, mas, em linhas gerais, pode-se entender como o ato de ficar preso em assuntos que lhe interessam, sem dar muito espaço para novidades.
Algoritmos de redes sociais e até de pesquisa levam em consideração tudo que você "consome" on-line e trava uma batalha digital para sempre lhe oferecer mais e mais desse tipo de conteúdo. De certa forma, é confortável, você estará cercado de uma "bolha" da agradabilidade, pensamentos e opiniões iguais ao seu.
Não obstante, é perigoso. Primeiro, porque o mundo real não é um algoritmo. No cotidiano, na rua, no trabalho, você não vai ter de lidar só com o que lhe agrada. Segundo, porque afasta situações que são relevantes para outros e movem o mundo.
Minha opinião? Se você não gosta de determinado espectro (seja político, religioso ou cultural) esteja aberto a ele. É difícil, sim, mas é o certo. Pesquise sobre aquilo que lhe faz torcer o nariz e ouça o outro lado. Furar a "bolha" é um exercício diário. Ou já já você estará aí questionando por que os jornais estão cobrindo um assunto que não lhe interessa.
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