
Vídeo 1: O jornalista está sentado, diante do computador, sob a tenda de imprensa em frente a um hospital de Khan Yunis. Ele queima. Os colegas, desesperados, jogam água sobre ele, que se parece com um boneco em chamas. Vídeo 2: Atordoado, um homem corre, segurando algo. É uma criança decapitada. Atrás, vem outro, com um menino sem as pernas. Vídeo 3: Com as sirenes e luzes acesas, um comboio de ambulâncias avança pela estrada e é interceptado a tiros, perto da cidade de Rafah, na fronteira com o Egito. Quinze paramédicos são assassinados pelos soldados. Enquanto agoniza, um dos funcionários de emergência pronuncia o shahada (juramento islâmico); também é possível ouvir uma das vítimas chamando pelo pai na hora da morte. Três vídeos que são provas cabais da barbárie cometida por Israel na Faixa de Gaza. Sem contar as fotos que chegam, quase todos os dias, pelas agências de notícias, de mães debruçadas sobre o corpo do filho, envoltas na pior dor que pode existir.
O que acontece na Faixa de Gaza não é justiça pelo massacre de 7 de outubro de 2023 — diga-se de agem, horrível e dantesco. É vingança cega, uma espécie de Lei de Talião que vitima civis. Israel não apenas mata inocentes, mas também impõe uma vida de penúria, miséria e sofrimento a mais de 2 milhões de palestinos. Mesmo em tempos de relativa calma, Gaza era uma prisão a céu aberto. Agora, virou um monte de escombros habitado por deslocados internamente. Mesmo antes de as bombas caírem quase que diariamente, o zumbido constante de drones era a senha de que o território palestino estava sendo perscrutado, devassado dia e noite.
Nos últimos 10 dias de março, 322 crianças foram assassinadas em bombardeios israelenses a Gaza, segundo o Unicef. Seriam elas militantes do Hamas responsáveis por matar, violentar e sequestrar civis em 7 de outubro? Perdoe-me a ironia ou o sarcasmo, mas é um absurdo ceifar a vida de crianças sob a alegação de "dano colateral" ou sob a justificativa de que "os terroristas do Hamas estavam no mesmo prédio ou na mesma área". É inissível a condescendência vergonhosa da comunidade internacional com as atrocidades que ocorrem em Gaza. Poucos são os líderes que se levantam contra a matança — entre eles, está Lula.
Qualquer nação atacada tem o direito à autodefesa. Mas não de exercer uma punição coletiva. Os governantes de Estados que prezam pela paz, pela democracia e pelo Estado de Direito precisam externar seu repúdio ao que ocorre em Gaza. Assim como o Conselho de Segurança da ONU tem a obrigação moral de mostrar a que veio e aprovar uma resolução categórica, sem vetos dos EUA, ainda que seja uma hipótese quase impossível ante a aliança entre Benjamin Netanyahu e Donald Trump. ou da hora de deter a barbárie.