GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Governos de 22 países exigem que Israel libere ajuda humanitária em Gaza

Em comunicado conjunto, 22 governos instam Israel a liberar a assistência humanitária ao território palestino, após o anúncio de auxílio limitado. Segundo a OMS, 2 milhões de pessoas am fome no enclave

Em Jambalia, deslocados se reúnem para receber porções de alimentos em uma distribuição de caridade: 78 dias de bloqueio -  (crédito:  AFP)
Em Jambalia, deslocados se reúnem para receber porções de alimentos em uma distribuição de caridade: 78 dias de bloqueio - (crédito: AFP)

Após 78 dias de bloqueio total, o governo de Israel anunciou, ontem, a liberação parcial da ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. Em vídeo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reafirmou que assumirá o controle do território palestino, assinalando ainda que, "não devemos deixar que a população caia na fome, nem por razões práticas, nem por razões diplomáticas". Segundo ele, "os amigos" de Israel disseram que não tolerariam "imagens de fome em massa" no enclave. 

Foi, então, autorizada a entrada de cinco caminhões de ajuda — "uma gota no oceano", definiu a Organização das Nações Unidas (ONU). A comunidade internacional reagiu e exigiu a retomada completa do auxílio. 

Em declaração conjunta, divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, 22 países — incluindo França, Reino Unido, Canadá, Japão e Austrália — reivindicaram que a assistência seja organizada pelas Nações Unidas e por organizações não governamentais (ONGs).

Inicialmente, nove caminhões com ajuda da ONU foram autorizados a entrar na Faixa de Gaza. Posteriormente, no entanto, o governo israelense confirmou a entrada de apenas cinco veículos. 

Após mais de dois meses de bloqueio total, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que 2 milhões de pessoas am fome no território palestino. Na semana ada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o aliado mais próximo de Israel, itiu que "há muitas pessoas ando fome" em Gaza.

"A população em Gaza enfrenta a fome e deve receber a ajuda de que necessita desesperadamente", exortaram os ministérios de Relações Exteriores de Austrália, Canadá, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Eslovênia, Espanha, Suécia e Reino Unido. A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, também assinou o texto.

As chancelarias desses países consideram que  o "novo modelo de distribuição" restrita decidido por Israel "coloca em perigo os beneficiários e os trabalhadores humanitários, afeta o papel e a independência da ONU e de nossos parceiros de confiança e relaciona a ajuda humanitária a objetivos políticos e militares". "A ajuda humanitária nunca deve ser politizada, e o território palestino não deve ser reduzido ou submetido a nenhuma mudança demográfica", atesta o comunicado.

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Em outra manifestação, os líderes da França, Canadá e Reino Unido pediram a Israel o fim das  "ações escandalosas" na Faixa de Gaza e prometeram responder com "medidas concretas" caso não cesse a ofensiva militar e não desbloqueie a ajuda humanitária. 

"Israel sofreu um atentado atroz em 7 de outubro. Sempre apoiamos o direito de Israel de defender os israelenses contra o terrorismo, mas essa escalada é totalmente desproporcional", escreveram o francês Emmanuel Macron, o canadense Mark Carney e o britânico Keir Starmer. "Não ficaremos de braços cruzados."

Bebês

O governo Netanyahu informou que começaria o desbloqueio permitindo a entrada de caminhões com alimentos para bebês. A autorização para ajuda parcial coincide com um momento de intensificação da ofensiva contra o Hamas, que deixou mais de 50 mortos em Gaza somente ontem. 

O Exército israelense divulgou no domingo a nova operação contra o movimento islamista palestino Hamas, que governa o território devastado e desencadeou a atual guerra com o ataque contra Israel em 7 de outubro de 2023. 

"Os combates são intensos, e estamos progredindo. Tomaremos o controle de todo o território da Faixa", ressaltou o chefe de Governo israelense no vídeo. "Não vamos ceder. Mas, para ter sucesso, temos que agir de forma que não nos detenham", acrescentou, ao explicar o que levou Israel a autorizar a entrada limitada de ajuda humanitária no enclave bombardeado.  

Israel impõe o bloqueio a Gaza desde 2 de março, que impede a entrada de insumos básicos no território de 2,4 milhões de habitantes. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou para a dramática situação no território. "Há toneladas de comida bloqueadas na fronteira", destacou.

 Bombardeios

De acordo com a Defesa Civil de Gaza, os bombardeios realizados ontem pelas forças de Israel mataram 52 pessoas em diferentes pontos do território. "Foi como o Apocalipse", disse Mohamed Sarhan, morador de Khan Yunis, a principal cidade do sul da Faixa de Gaza, à agência de notícias Presse (AFP). "Há disparos vindos de todos os apartamentos, rajadas de fogo, caças F-16 e helicópteros atirando", disse ele.

O porta-voz militar israelense em árabe, Avichay Adraee, havia pedido anteriormente aos moradores da cidade que deixassem o local imediatamente. "De agora em diante, Khan Yunis será considerada uma zona de combate perigosa", avisou, nas redes sociais.

Em meio a esse cenário, o movimento islamista negocia uma nova trégua de maneira indireta com Israel. As conversas acontecem no Catar, um dos países mediadores ao lado do Egito e dos Estados Unidos, mas não apresentaram resultados até a noite de ontem. 

Netanyahu declarou, em mais de  uma ocasião, que está aberto a um acordo de trégua que inclua o fim da ofensiva, mas põe como condição o "exílio" do Hamas e o  desarmamento do território, reivindicações até agora rejeitadas pelo movimento palestino.

 


  • População abandona o que restou de suas casas, em meio a ordens de evacuação israelenses: Netanyahu diz que assumirá o controle
    População abandona o que restou de suas casas, em meio a ordens de evacuação israelenses: Netanyahu diz que assumirá o controle Foto: Bashar TALEB / AFP
  •  População abandona o que restou de suas casas, em meio a ordens de evacuação israelenses: Netanyahu diz que assumirá o controle
    População abandona o que restou de suas casas, em meio a ordens de evacuação israelenses: Netanyahu diz que assumirá o controle Foto: Bashar TALEB / AFP
postado em 20/05/2025 04:09
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