
Em uma escalada sem precedentes da guerra, Israel Katz — ministro da Defesa israelense — anunciou a expansão das operações militares na Faixa de Gaza para tomar uma "grande área" do enclave palestino. "As tropas se moverão para limpar áreas dos terroristas e infraestrutura e capturar um extenso território, que será incorporado às áreas de segurança do Estado de Israel", declarou, por meio de um comunicado. Mais tarde, em mensagem pulicada na rede social X, ele afirmou que a chamada "Operação Força e Espada" aumentará a pressão pela libertação de "todos os reféns" diante da "recusa do Hamas" (grupo terrorista que controla Gaza). "Peço aos moradores de Gaza que ajam agora, a fim de remover o Hamas e devolver todos os reféns", disse Katz.
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O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu classificou a estratégia de "mudança de marcha". "Estamos dissecando a Faixa e aumentando a pressão o a o, para que nos entreguem os reféns", ressaltou, ao itir que as Forças de Defesa de Israel (IDF) estão "tomando território". Ex-porta-voz das IDF e analista da Fundação pela Defesa das Democracias (FDD), Jonathan Conricus explicou ao Correio que as manobras israelenses buscam impor uma pressão adicional sobre o Hamas para soltar os sequestrados. "Até o momento, Israel tem levado adiante operações militares bastante limitadas. Trata-se de uma ligeira escalada, por meio da qual Israel envia uma mensagem ao Hamas: se eles não aderirem às negociações, as IDF tomarão bens importantes para o grupo", observou.
Segundo Conricus, Israel pretende fazer com que seja possível dividir Gaza em três partes, com a separação entre Rafah e Khan Yunis e a abertura de novo corredor, o Morag (nome hebraico de um antigo assentamento israelense no sul do enclave). "A lógica é intensificar a pressão. Enquanto os egípcios continuarem a fornecer apoio militar e diplomático para o Hamas, será improvável que o grupo responda de forma favorável à nossa pressão", comentou. "O Hamas continuará a se engajar em ações de combate e a se esconder em túneis." O ex-porta-voz das IDF não crê que a declaração de Katz sobre uma anexação deva ser considerada permanente. "Qualquer envio de tropas é reversível. Se o Hamas retornar à mesa de negociações e soltar os reféns, as tropas poderão sair de Gaza, após uma avaliação da situação no terreno e dos objetivos políticos."
Consultados pelo Correio, autoridades palestinas e um dos líderes do Hamas denunciaram os planos de Israel e alertaram para as consequências. Varsen Aghabekian Shaheen, ministra de Estado para Assuntos e Expatriados da Autoridade Palestina, disse que as declarações de Katz e de Natanyahu promovem a "escalada do genocídio, do deslocamento forçado e da anexação". "A intensificação da violência, sob o pretexto de pressão militar, significa um agravamento do assassinato de civis e um aprofundamento do deslocamento contínuo dentro de um ciclo fechado de morte, devido aos bombardeios, à fome, à sede e à destruição das instituições de saúde", avaliou. Shaheen acredita que o governo israelense se alimenta da escalada. "O mundo deve forçar Israel a parar a agressão e retornar às negociações, uma vez que todas as soluções militares falharam", cobrou.
Advertência
Por meio do WhatsApp, Mahmoud Mardawi — um dos líderes do Hamas e integrante do Comitê Político do grupo — advertiu para uma "mudança fundamental na natureza do conflito", em caso de anexação de partes de Gaza. "Isso apenas intensificará a resistência e a sua determinação de confrontar tais os e planos. Sem dúvida, levará a uma escalada sem precedentes da resistência — não somente em Gaza, mas também na Cisjordânia e em todos os lugares onde existam palestinos", afirmou, ao prever consequências "desastrosas".
Mustafa Barghouti, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina e potencial sucessor do presidente Mahmud Abbas, acusou Netanyahu de dissecar Gaza "para conduzir o genocídio e a limpeza étnica". "O premiê não quer cessar-fogo, pois deseja a limpeza étnica da população palestina de Gaza. Ele não se importa com as vidas dos reféns israelenses nem com o direito internacional", criticou, pelo WhatsApp.
Embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben disse que "a tímida" ação e reação internacional "alimentam o extremismo israelense". De acordo com ele, as declarações de Katz e de Netanyahu são sérias, ameaçam a segurança nacional palestina e abrem as portas para mais violência e guerras genocidas. "Os povos palestino e israelense são os que pagam o preço, assim como a paz e a estabilidade da região", lamentou.
Professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, Alon Ben-Meir classificou de "ultrajante" a ameaça de Israel de tomar partes de Gaza. "Trump é o maior culpado, ao dar sinal verde para que os israelenses façam o que quiserem. Não posso enfatizar o quão horrível é o modo como Israel se comporta", disse ao Correio.
EU ACHO...
"A expansão das 'zonas de segurança' faz parte do esforço para consolidar a ocupação e o deslocamento forçado e sabotar esforços pela busca de um cessar-fogo e do fim do genocídio. O fracasso internacional em deter a agressão encoraja a ocupação a seguir com a violência."
Varsen Aghabekian Shaheen, ministra de Estado para Assuntos Exteriores e Expatriados da Autoridade Palestina
"O anúncio da intenção de anexar partes de Gaza representa uma ameaça direta a qualquer acordo em potencial. Também revela que Israel não tem a vontade de se comprometer com qualquer acordo, mas, em vez disso, busca impor um fato consumado pela força e anexar territórios, sob o pretexto de guerra."
Mahmoud Mardawi, um dos líderes do Hamas e integrante do Comitê Político do grupo
"Israel ainda não cortou a Faixa de Gaza ao meio. O Corredor Netzarim, na parte central de Gaza, ainda está aberto. Os moradores ainda têm a capacidade de se mover entre o norte e o sul. Israel deverá expandir expandir as operações ao sul Cidade de Gaza se o Hamas não responder de forma positiva."
Jonathan Conricus, ex-porta-voz das IDF e analista da Fundação pela Defesa das Democracias (FDD)
"O governo de Netanyahu acredita que uma pressão adicional sobre o Hamas pode fazer com que o grupo mude de ideia sobre manter os reféns. Isso explica a operação militar renovada em Gaza. Israel acredita que a tomada territorial pode alterar o comportamento do Hamas. As tropas deverão permanecer por muito tempo, para impedir o Hamas de controlar a população."
Efraim Inbar, presidente do Instituto para Estratégia e Segurança de Jerusalém (JISS)