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Projeto CID Judô Paulo Freire: educação de vida por meio do esporte

A iniciativa, ofertada pela Secretaria de Educação e coordenada pelo professor Maurício Matos, oferece educação física para alunos do Centro de Ensino Médio Paulo Freire, na Asa Norte, com aulas abertas para a comunidade

Correio Braziliense
postado em 17/04/2025 19:00 / atualizado em 17/04/2025 19:37
Desde 2017, os alunos são incentivados a praticar escrita e interpretação de texto sobre o significado do judô: "Caminho suave" -  (crédito:  Guilherme Felix/CB/D.A Press                                    )
Desde 2017, os alunos são incentivados a praticar escrita e interpretação de texto sobre o significado do judô: "Caminho suave" - (crédito: Guilherme Felix/CB/D.A Press )

Artur Maldaner*

Buscando garantir ibilidade ao esporte para alunos da rede pública do Distrito Federal, o Projeto CID Judô Paulo Freire faz parte do Centro de Iniciação Desportiva (CID) da Secretaria de Educação do DF (SEEDF) e foi reinaugurado em 2022 no Centro de Ensino Médio Paulo Freire, no SGAN 610, na Asa Norte. As aulas de Judô do CID são ofertadas para alunos do ensino fundamental e ensino médio, no contraturno, e são totalmente gratuitas. As inscrições podem ser realizadas por meio da página do Instagram: www.instagram.com/judopaulofreire.

Servidor da SEEDF responsável pelas aulas de judô no Paulo Freire, Maurício Matos Maia conta que o espaço de treino estava inutilizado há mais de 10 anos quando chegou no colégio: “O nosso dojô (lugar que se aprende o caminho) é histórico do Distrito Federal, ele tem muitos anos, tanto que eu fiz questão de homenagear o professor que montou esse dojô chamando o espaço de Dojô Walter Malva. Eu não decidi que ia trabalhar aqui, é um processo seletivo da SEEDF, o convencimento que eu fiz foi para a escola pedir a reabertura do judô”, conta.

O professor diz que leciona na rede pública há 30 anos: “Minha carreira foi como professor de educação física de escola, 20 anos no Paranoá. Depois, eu fui para o Centro Integrado de Educação Física (CIEF), na Asa Sul, para ser professor de futsal, e lá surgiu uma vaga para o judô. Deu um estalo, então fui pegar minha faixa preta com 46 anos de idade, não para competir, porque no meu dojô eu não viso competição, nosso trabalho é mais integral. É tirar um menino do sedentarismo, é fazer redação. Eu não fui um judoca que continuou o trabalho de judoca, eu fui um professor de educação física que hoje utiliza a modalidade como ferramenta educacional”, compartilha.

 Projeto CID Judo no Colegio Paulo Freire
Projeto CID Judo no Colegio Paulo Freire: mais que um esporte, é considerada por eles uma família (foto: Guilherme Felix/CB/D.A Press )

Da luta para a vida

Para Maurício, o judô é uma modalidade que se destaca no aspecto educacional pois os ideais do esporte ensinam importantes lições, como respeito aos mais velhos, dedicação, humildade e garra.

“O judô é transformador, mas, muitas vezes, as pessoas não têm noção disso. Eu mesmo era cético. Quando meu sensei me levou para o judô, eu pensava que já tinha esses valores, planejava apenas continuar meu trabalho em outra modalidade, mas o tempo provou que eu estava errado, essa é a potência do judô.”

 Projeto CID Judo no Colegio Paulo Freire
Os alunos do Projeto CID Judo no Colegio Paulo Freire afirmam que a modalidade os ajuda a desenvolver inteligência emocional para a vida (foto: Guilherme Felix/CB/D.A Press )

Caio Roberto Oliveira, 25 anos, e Leonardo Valentim, 23, foram alunos do professor Maurício no CIEF e contam que o judô foi essencial na transição deles para a fase adulta: “Tudo que é trabalhado aqui dentro com o sensei Maurício é além da parte física, nós trabalhamos força física e mental, respeito, disciplina, a questão de ajudar o próximo. O projeto todo é baseado em auxiliar nossa vida. Então, o judô acaba auxiliando no trabalho, para ter serenidade e aguentar uma barra pesada, ter equilíbrio emocional, ser pontual e respeitar o professor que está lá dando aula”, explica Leonardo, estudante da UnB.

"Caminho suave"

Como educação e projeto de vida, o sensei Maurício afirma que o ambiente escolar deve ser multidisciplinar. O professor proíbe o uso do celular dentro do ambiente de treino e incentiva que os alunos adotem a prática da leitura. “A responsabilidade de escrever e interpretar um texto não é só do professor de língua portuguesa, temos de trabalhar interpretação em todas as matérias“, diz.

Desde 2017, o professor gerencia um projeto anual de redação dentro do ambiente do judô, onde os alunos são incentivados a escrever um texto sobre o que a modalidade significa para eles. No último ano, o tema foi sobre o significado do termo Judô, que, em japonês, significa “caminho suave”.

 Projeto CID Judo no Colegio Paulo Freire
Alunos Caio Roberto Oliveira, 25 anos, e Leonardo Valentim, 23: "Judô foi essencial na transição para a fase adulta" (foto: Guilherme Felix/CB/D.A Press )

O judoca Caio Oliveira, que trabalha como massoterapeuta, elogia o projeto, explicando que ainda lê as suas redações de anos anteriores. Nelas, ele afirma poder observar a forma como enxergava o mundo e como mudou de perspectiva por causa do judô.

“O que é o caminho suave? Bem, o judô é uma arte marcial que combina força, equilíbrio e autocontrole, utilizando a energia do oponente a seu favor. Porém, o caminho suave vai muito além do seu significado literal. Na minha percepção, é o conjunto de tudo que o mesmo nos proporciona, de como nos sentimos, como nos portamos dentro e fora do dojô”, consta em um trecho dos textos de Caio.

Maria Fernanda da Silva, 15 anos, estudante do primeiro ano do ensino médio do CEM Paulo Freire: "O sensei conversa muito com a gente sobre aprendizados da vida e, principalmente, de estudos"
Maria Fernanda da Silva, 15 anos, estudante do primeiro ano do ensino médio do CEM Paulo Freire: "O sensei conversa muito com a gente sobre aprendizados da vida e, principalmente, de estudos" (foto: Guilherme Felix/CB/D.A Press )

Maria Fernanda da Silva Melo, 15 anos, é estudante do primeiro ano do ensino médio do CEM Paulo Freire: “Eu gosto muito de esportes, o judô é um dos que eu mais pratico, além de dança e vôlei, que eu sou apaixonada. O sensei conversa muito com a gente sobre aprendizados da vida e, principalmente, de estudos, e acho muito legal a forma como ele aborda esses temas. Eu vejo algumas coisas que eu fazia que, hoje, não acho legais”, relata.

Sobre qual conselho do judô mais a marcou, Maria Fernanda cita o comprometimento, "especialmente, com a organização".  

*Estagiário sob a supervisão de Marina Rodrigues

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