A HORA É DE REVISÃO

Pedagoga e gestora de educação analisa o resultado do Censo Escolar 2022

Jocimara Roesler afirma que as taxas que mostram a volta de crianças e jovens para a escola depois da pandemia representam uma clara aposta da sociedade na aprendizagem

EuEstudante
postado em 09/02/2023 21:00 / atualizado em 09/02/2023 21:00
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

“O aumento do número de matrículas na educação básica é uma ótima oportunidade para as instituições apostarem nos recursos tecnológicos e nas metodologias ativas, que atraem a atenção e o interesse do aluno para o aprendizado. É uma chance para o resgate da educação”, é o que destaca a pedagoga e gestora de educação, Jucimara Roesler.

Segundo ela, os índices que mostram a volta do crescimento de crianças e jovens à escola representam uma clara aposta da sociedade no aprendizado. "É como se fosse um resgate. Para o desenvolvimento social do país é um alívio. Para a escola, uma alegria e oportunidade de engajar o aluno, considerando as profundas transformações que impactaram profundamente o aprendizado de crianças e de adolescentes e até impulsionaram a evasão escolar", diz ela.

"É um retorno da sociedade para as instituições de ensino, uma chance para que as escolas tragam novas soluções e digam ao aluno que as instituições tem procurado entender, acolher e se organizar para conseguir atender às demandas dessa geração em todos os níveis: social, emocional, tecnológico, pedagógico e metodológico", prossegue Jucimara, que nessa retomada do ensino básico destaca alguns pontos que merecem atenção.


O que é imprescindível nesse momento de retomada para que uma escola possa oferecer uma educação de qualidade?

É necessário que haja mudança de atitude, mudança de modelo. O estudante vinha de um modelo focado em metodologias tradicionais e, da noite para o dia, houve uma ruptura radical na forma de aprender. O aluno voltou para a escola, mas a escola não se reinventou. A desmotivação e a ansiedade tomaram conta desses alunos de forma nítida.

Somado a isso, as crianças lidam com inteligência artificial. A escola precisa encontrar um caminho de recriação de suas práticas, pois é mais atrativo aprender na internet, com vídeos, no chatGPT [algoritmo baseado em inteligência artificial]. A cultura é digital, mas não vale só incorporar o celular e o tablet na rotina da escola, é preciso utilizar essas ferramentas de forma ativa e interdisciplinar na linguagem didática, em um modelo psicopedagógico que faça sentido para o aluno e para as disciplinas essenciais. A esses alunos deve-se, ainda, apresentar a possibilidade de escolher e montar sua grade curricular. Enfim, a tecnologia é essencial, mas ela por si só não mantém o aluno motivado a aprender. É necessário que as aulas mostrem um propósito que impacte de forma direta na vida desse aluno, considerando sua realidade e a realidade do seu entorno, seu bairro, comunidade, cidade.

Quais os caminhos de recuperação desses alunos após as lacunas deixadas pela pandemia?

É hora de ouvir para entender os déficits de aprendizagem dos alunos. A participação, protagonismo e a personalização são decisivas agora. O aluno não quer mais ser um ouvinte, ele quer colocar a mão na massa. A mudança na forma de ensinar é uma questão urgente que precisa ser praticada pela escola. Aprender é oferecer uma experiência que encante os alunos. A escola precisa se perguntar: por que, na visão dos alunos, estudar é chato? O que tornaria as aulas mais encantadoras?

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. (foto: Arquivo Pessoal)

O que os pais mais devem monitorar?

Os pais precisam acompanhar, logo no inicio, quais as dificuldades de aprendizagem que seus filhos enfrentam. Afinal, aprender é sempre um exercício de parceria entre família e escola. Por exemplo, uma dificuldade inicial em matemática, se não for percebida no começo pode se tornar um grande problema crônico de aprendizado. Identificou o problema, vale muito apostar na aula de reforço, seja em casa ou na escola. As crianças têm uma capacidade incrível, mas precisam que o professor e os pais não entrem no ano letivo no piloto automático. Elas precisam de um e atento. Para retomar estes dois anos em que viveram um fenômeno que ficará marcado em suas vidas, é necessário observar para depois agir.

E na escola pública, como ficam os déficits de aprendizagem?

Muitas escolas públicas não conseguiram implementar o ensino remoto. Esses dois anos aram em branco na vida de muitas crianças brasileiras, o que é um ponto muito negativo para os municípios que não conseguiram se organizar para seguir com o calendário letivo. Seja pública ou privada a escola, a ordem é recuperar a aprendizagem perdida, partir do zero para que sejam sanados os déficits de aprendizagem. Ainda é possível.

Bio

Jucimara Roesler é Pedagoga, com mestrado em Educação, doutorado em Comunicação Social e com pesquisa Pós-doutoral pela Universidade Complutense de Madri. Jucimara é Membro do Comitê de Qualidade da Associação Brasileira de Educação a Distância - ABED; Consultora de Educação a Distância da Hoper; Avaliadora MEC/INEP. Foi a primeira diretora de EaD da Unisul (maior universidade pública de direito privado de Santa Catarina). Atua como gestora acadêmica e operacional de cursos de graduação e pós-graduação, além de gestora de expansão de EaD nas regiões Sul, Nordeste e Nordeste do país.Entre as práticas de Jucimara Roesler estão a revisão da estrutura do Ensino a Distância e implantação do EAD 100%, disciplinas a distância em cursos presenciais, cursos híbridos e semipresenciais nos modelos online e por satélite.

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