
Um último ciclo para deixar um legado de evolução ao voleibol do Brasil. Assim, Radamés Lattari idealiza o novo mandato à frente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Reeleito em janeiro para liderar a entidade entre 2025 e 2029 — o carioca de 67 anos exerce o cargo desde 2023, quando deixou o status de vice devido à morte do titular Walter Pitombo Laranjeiras (1933-2023) —, um dos personagens mais atuantes do esporte no país comandará toda a preparação nas praias e nas quadras para os Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028.
Lattari guiará os rumos do segundo esporte preferido de quase todo brasileiro, disposto a somar e a dar voz a quem tem a capacidade de contribuir para a evolução da modalidade. Nos planos do novo mandato, está a intenção de reforçar ações oriundas da capacidade transformadora da CBV. Na busca por resultados, terá o e de técnicos vitoriosos: nas quadras, Bernardinho, no masculino, e Zé Roberto Guimarães, no feminino; nas praias, Leandro Brachola. "Aceitaram o nosso convite, não só de treinarem, mas também de serem os coordenadores."
"Fã número um" de Brasília, onde acumulou histórias profissionais, Lattari ressalta, em entrevista ao Correio, o potencial da cidade de abrigar grandes eventos. Até domingo, a capital recebe o Circuito Mundial de praia. Nas quadras, o presidente deixa a promessa de articular o retorno uma etapa da Liga das Nações por aqui, em 2026. "Brasília sempre abraçou o vôlei brasileiro. Quanto mais próximos dos fãs, melhor.
Como está a expectativa para o novo mandato na CBV?
É imensa. No dia seguinte ao fim da participação em Paris, começamos a nos preparar para Los Angeles. Nosso objetivo foi conversar com o Bernardinho, com o Zé Roberto e com o Leandro Brachola, três treinadores campeões olímpicos. Aceitaram o nosso convite, não só de treinarem, mas serem os coordenadores do vôlei de praia, e de quadra masculino e feminino, por todo o ciclo. Estamos muito confiantes de que vão desenvolver um excelente trabalho.
O que estabelece como metas?
O nosso objetivo sempre vai ser o Brasil figurar entre as melhores equipes em todas as competições, mas sem perder o nosso objetivo principal, o nosso foco, os Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028.
Quando assumiu, você se colocou como um pacificador. E agora? Qual vai ser o modo de atuação?
Não sei se entrei como pacificador. Sou daqueles que não gostam de brigar. Quando se briga, os dois lados perdem. Quero sempre somar, que todas as pessoas que contribuíram para o vôlei brasileiro deem sugestões, em sua experiência. Os mais jovens tragam novas ideias. O somatório disso faz o vôlei melhorar. Se ocorrer, melhor para minha gestão.
Uma vez, você disse considerar ser uma covardia presidir depois de Carlos Arthur Nuzman, Ary Graça e Toroca… ainda pensa nessa sombra?
Não considero uma sombra. Existe uma realidade, que é o quanto esses três nomes fizeram de bem para o vôlei brasileiro. Agora, é importante para a gente demonstrar, em uma nova gestão, em um mundo novo, que hoje existe, que podemos ajudar e mostrar que o vôlei vai além das quadras. A CBV tem um poder transformador. Estamos investindo em diversas ações além do esporte.
Quais seriam essas ações?
Fizemos a campanha "Você Inspira, o Mundo Muda", sobre a importância do uso consciente das redes sociais. Tivemos a "Com Preconceito, Não Tem Jogo", contra qualquer tipo de discriminação, seja racial, religiosa, política. Os nossos líberos jogaram com uma camisa especial, em alusão. Colocamos regulamentos com punições severas para qualquer ato discriminatório. A CBV tornou-se, em termos de carbono neutro, a única entidade nacional a receber o Selo Ouro de 2024 pela gestão de emissões de gás de efeito estufa. Aderimos ao Pacto Global da ONU. Pela primeira vez, tivemos nota máxima no programa Gestão, Ética e Transparência (GET) do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Temos feito situações espetaculares, como a do lançamento do nosso material para as Olimpíadas, no Cristo Redentor.
O combate à manipulação de resultados recebe atenção?
Temos feito o possível. A nossa luta é combater. Fizemos um acordo com a Sports Radar, que controla as apostas. Qualquer anomalia, ela nos enviará e cabe a nós acionarmos as entidades competentes. Temos feito, em todas as nossas competições de vôlei de quadra e de praia, nas nossas categorias adultas e de base, onde há ênfase maior na formação do caráter dos nossos atletas, palestras sobre a manipulação de resultados. Tudo o que podemos fazer em termos de prevenção, temos feito. Palestras em todas as regiões do Brasil nas nossas competições.
Brasília está sediando o Circuito Mundial. Qual a importância do evento e da cidade para a CBV?
Brasília sempre abraçou o vôlei. É o 26º evento de praia na cidade desde 1992. É a sexta vez de uma etapa do Circuito Mundial. Brasília recebeu etapas da Liga das Nações, Superliga Master. Este ano, vai fazer quatro Campeonatos Brasileiros de seleções da nossa base. E a gente, acima de tudo, sabe que, quando faz esses eventos, estimula os mais jovens a participarem. Temos certeza de que Brasília é uma capital com grandes talentos que podem colaborar muito com o vôlei brasileiro. Quanto mais próximos dos fãs de Brasília, melhor.
A cidade sediará a Liga das Nações novamente?
Provavelmente, será o local da Liga das Nações de 2026. É uma promessa que tenho com o secretário Renato Junqueira, o deputado Júlio César, o secretário Rodrigo Delmasso. Esses três fazem de tudo para levar grandes eventos para Brasília e me pediram. A cidade é a sede do nosso patrocinador, o Banco do Brasil. Vai levar o nome de Brasília para o mundo inteiro.
Com o Circuito Mundial aqui, há vantagens de logística…
Conseguimos diminuir o custo e o desgaste físico das nossas duplas, que não necessitam viajar para o exterior para pontuar no ranking mundial. Então, evitamos um desgaste grande dos nossos atletas e diminuímos o custo com a logística. Mandar o pessoal para fora é cada vez mais custoso e estamos fazendo de tudo para colaborar com as nossas duplas, para terem um melhor desempenho no ranking mundial.
Como a CBV atua nas praias em âmbito nacional?
Procuramos levar o que amos a fazer nos últimos anos. Criamos um circuito nacional de vôlei de praia, no qual agregamos as etapas estaduais e regionais. As duplas podem pontuar para entrar no circuito brasileiro, no Challenge, para atingir o Circuito Open. A CBV contribui com as 27 federações. Dividimos o Brasil em sete regiões para fazermos sete regionais com os vencedores dos estaduais. No campeonato máximo, fazemos nove, 10 etapas por ano em diversas cidades do país. É o único país no mundo que reúne tantas competições internacionais, com ampla vantagem sobre qualquer outro.
O vôlei de praia te deixa com a cabeça menos quente no ciclo?
A cabeça vai ficar preocupada até o último dia de Los Angeles. Tem uma preocupação constante de querer fazer o melhor para os nossos atletas, dar as melhores condições. Ficamos felizes de saber que a Carol Solberg e a Rebecca Silva, assim como a dupla Thamela e Victória, ambas recém-formadas, conquistaram uma etapa do circuito mundial neste ano. Ainda temos a dupla campeã olímpica: Duda e Ana Patrícia. Dentre as principais duplas femininas do mundo, temos três que estão brigando.
Como vê a fase do masculino?
Várias duplas estão se formando e, até Los Angeles, vão crescer bastante. Agora, em Saquarema, uma dupla bem jovem, Pedro, 21 anos, e o Renato, 25, se juntaram agora e conseguiram ficar entre os melhores do mundo. Ainda temos jogadores como George, que se juntou ao Saymon, e o Evandro com o Arthur, com experiência de Olimpíada. Vamos crescer muito. É só ter um pouquinho de paciência. Em breve, vamos colher frutos.
Como enxerga a reconstrução das seleções de quadra?
O vôlei de quadra depende muito de gerações. Temos uma no vôlei feminino mais pronta. No masculino, tivemos a despedida de diversos jogadores, mas temos uma geração jovem surgindo, com nomes excepcionais. Já conversei muitas vezes com o Bernardinho. Nós temos que fazer todo o trabalho voltado para, neste ciclo, dar experiência a esses jogadores para terem uma bela participação nas Olimpíadas de Los Angeles. Eu estou muito otimista. Vamos ter mescla de experiência com juventude, fazendo essas equipes chegarem a 2028 com muitas chances de brigar com as demais potências do vôlei mundial.
Bernardinho disse "ter receio" da estreia da Seleção na VNL no Rio, em junho, pela questão da pressão. O que pensa sobre isso?
Fui treinador a minha vida toda e todo treinador sempre vai ver diversos aspectos. É óbvio que o Bernardinho está olhando o lado de que uma equipe jovem pode sentir uma cobrança maior. Mas eu prefiro ver a metade do copo cheia: que bom que essa garotada vai ter a força da torcida brasileira a impulsionando na sua primeira competição internacional.
O "fico" do Zé Roberto foi um alívio?
Existem treinadores excepcionais que, infelizmente, tiveram azar de terem o Bernadinho e o Zé Roberto no mesmo período. Muita gente fala para mim, "poxa, eles têm tanto tempo", mas, para mim, são os melhores do mundo. Nós não podemos perdê-los. Obviamente, um dia, eles vão precisar ar o bastão. Pedi para começarem a preparar diversos treinadores nas seleções de base para que, ao final, quando se tornarem somente coordenadores, supervisores técnicos, possam indicar para a CBV três ou quatro nomes.
O Zé trata Los Angeles como a última Olimpíada da carreira. Em 2028, você vai precisar entregar um sucessor…
Não vai ser problema para mim, vai ser para o meu substituto. Também sendo sincero, é meu último ciclo. É problema que eu quero deixar para o próximo presidente. Dizer: o Zé preparou grandes nomes para substituí-lo. Compete ao senhor escolhê-lo.
Como avalia a fase de Brasília na Superliga? O feminino ficou na elite e o masculino não subiu.
A equipe feminina de Brasília fez uma grande competição. Se manter e ter a possibilidade de, com antecedência, se preparar para a próxima temporada. Vai ter uma participação melhor. Sobre a masculina, a cada dia que a, a Superliga B está mais competitiva. Espero um maior número de equipes de Brasília. Sou fã número um da cidade. Tem condições de sobra de ter mais de uma equipe forte. O público é fanático. Com certeza, vai superlotar as dependências dos ginásios, porque é apaixonado.
Brasília está na rota da final única da Superliga?
A gente sempre recebe propostas do Brasil inteiro e nós estudamos qual é a melhor. Existe a possibilidade. Colocamos em discussão. É sempre motivo de prazer.