GRIPE AVIÁRIA

"Não há motivo para pânico", diz especialista sobre gripe aviária

Especialista assegura que humanos não correm riscos por comerem ovos ou carnes de animais infectados pela gripe aviária

Luizinho Caron:
Luizinho Caron: "Para a população, não tem maiores implicações. A carne de frango é segura. A doença não é transmitida pela carne ou ovos e, sim, por vias respiratórias" - (crédito: Luisa Biazus/divulgação)

A confirmação do primeiro caso do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade, ou gripe aviária, em uma granja de aves comerciais no Brasil acendeu um sinal de alerta nos sistemas de vigilância sanitária pelo país. Se antes as ocorrências eram em aves silvestres, com a confirmação da doença em um criatório, a área precisou ser isolada e as aves restantes acabaram eliminadas. Segundo o pesquisador Luizinho Caron, da Embrapa Suínos e Aves, trata-se do que é previsto no protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Apesar do impacto da notícia, que levou à suspensão da compra de frango do Brasil pela China, União Europeia e Argentina, o pesquisador observa que não há motivos para a população se preocupar e o trabalho que tem que ser feito é erradicar o foco da doença. Confira a seguir os principais pontos da entrevista concedida ao Correio

Que avaliação o senhor faz da confirmação do caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil?

Infelizmente, aconteceu o primeiro caso comercial. Em aves silvestres, a gente já teve, há dois anos, com a confirmação da doença de Newcastle. O primeiro ponto é que existem outros países produtores que têm o problema. Não é algo para ficarmos assustados. O Brasil teve 20 anos para se preparar e estamos prontos para fazer a despopulação do foco e voltar a produzir rapidamente. 

Qual o cenário mais provável para a gripe aviária no Brasil nos próximos anos? 

O Brasil tem adotado, com sucesso, as medidas de biosseguridade para se evitar ao máximo a entrada da doença, mas falhas sempre podem ocorrer. Nem sempre, como ocorre em outros países, vamos conseguir saber a real forma como o vírus chegou às aves. É importante o país continuar alerta e trabalhar as medidas de biossegurança, fazer a manutenção da tela das cercas de proteção nos criatórios, bem como os funcionários trocarem os calçados e tomarem banho antes de entrar nas granjas e ter contato com as matrizes.

O abate sanitário é sempre a estratégia mais eficaz para o controle da doença ou existem outras alternativas?

Infelizmente, é o preconizado pela Organização Mundial de Saúde: o abate das aves infectadas nos criatórios, seguido de medidas de desinfecção e posterior repovoamento de toda a granja, livres de aves infectadas. Há também o serviço de defesa, que trabalha para fazer o diagnóstico e encontrar os focos suspeitos.

O processo de investigação para termos a certeza de que o foco da doença está erradicado leva quanto tempo?

É rápido, em poucos dias, talvez uma ou duas semanas. Mas tem um período de 60 dias para fazer uma investigação nas granjas vizinhas e criatórios. Primeiro, num raio de 1km, depois 3km e aí chega em até 10km.

Barreiras sanitárias devem ser adotadas pelos estados em relação ao Rio Grande do Sul?

No caso da influenza aviária, o raio é de 10km, onde é feito um bloqueio. Tudo o que entra ou sai desse raio a pela checagem do serviço de defesa, que vai dizer o que pode ou não. Todo estado, porém, tem a sua barreira sanitária. Mas trata-se de um caso contido, não há nenhum sinal de que a doença esteja disseminada. O foco é fazer a contenção e eliminação das aves de maneira rápida.

  

Como a população precisa ser orientada em relação à gripe aviária? Há alguma restrição?

Para a população, não tem maiores implicações. A carne de frango é segura. A doença não é transmitida pela carne ou ovos e, sim, por vias respiratórias. Já as pessoas envolvidas mais próximas dos focos precisam ter treinamento, serem capacitadas a fazer a despopulação. Mas isso vai ser resolvido com os profissionais de defesa. Eles têm o pessoal capacitado para fazer a eliminação dos focos. Então, para a população em geral, não é uma doença de alto risco, apesar de terem alguns casos no mundo. A doença existe desde 1996 e, até hoje, menos de 900 pessoas se infectaram e elas tiveram contato muito próximo com aves doentes. Então, não há motivos para pânico. 

Como o Brasil está preparado para atuar no combate à gripe aviária? 

Estamos nos preparando desde o ano 2000. Nossa infraestrutura, nossa legislação e os nossos serviços de defesa sanitária animal têm se estruturado e se preparado para atuar com eficiência nesses episódios.

A recente pandemia de covid-19 assustou a todos nós. Há algum risco de algo semelhante ocorrer em relação à gripe aviária, como um processo de mutação do vírus ser uma ameaça aos humanos?

Não, não vejo esse risco. Apesar de existirem pesquisas que mostram a possibilidade do vírus de infectar humanos, essa infecção não é transmitida de humanos para humanos. Além disso, existem outras barreiras celulares de enzimas necessárias para fazer a replicação que são um pouco diferentes entre humanos e animais. Por isso, há uma dificuldade de infecção. 

Existem espécies que são mais suscetíveis à gripe aviária?

As aves, em geral, são suscetíveis. Algumas mais, outras um pouco. A garça, por exemplo, é um pouco suscetível; pombos são mais. As aves aquáticas, em geral, são bastante suscetíveis, como patos, gansos e cisnes. Há também  alguns mamíferos, como leões marinhos, focas e lobos marinhos.

Sobre a vacina, qual o cenário que existe hoje?

Existem vacinas para animais, para as aves, inclusive alguns países da Europa utilizam. Um dos principais problemas das vacinas atuais é que a imunidade dura pouco tempo, um ou dois meses. Isso dificulta porque tem que fazer muitas aplicações e isso acaba custando bastante caro. Por isso, a maioria dos países tem serviço de defesa funcional. Preferem trabalhar com a eliminação dos focos e não com a vacinação. Estados Unidos, por exemplo, está vacinando animais de zoológicos e de parques, mas não a população de aves de produção. A França tem imunizado algumas espécies.

postado em 17/05/2025 05:01 / atualizado em 17/05/2025 23:10
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