
O conflito entre as duas maiores economias do mundo no campo do comércio internacional ganhou um novo episódio no último dia da semana. Em um leve e cauteloso movimento de aproximação, o Ministério de Comércio da China comunicou ontem que estuda a possibilidade de negociar com os Estados Unidos a respeito das tarifas de importação impostas aos produtos de ambos os países.
Em um comunicado enviado por Pequim, o governo chinês respondeu tomou conhecimento do desejo de algumas autoridades norte-americanas em abrir negociação com o país e acrescentou que ainda avalia a proposta dos EUA. Mesmo assim, o governo chinês enfatizou que a sua posição permanece a mesma, de "lutar, se for necessário", e que a guerra tarifária e a guerra comercial foram iniciadas unilateralmente por Washington.
"Se os EUA quiserem conversar, devem demonstrar sinceridade. Devem estar preparados e agir em questões, como corrigir práticas erradas, e eliminar tarifas unilaterais. Observamos que os EUA têm feito constantes declarações sobre ajustar medidas tarifárias nos últimos dias", ressaltou o Ministério do Comércio da China.
Além disso, a nota também destaca que, se os EUA não corrigirem o que eles chamam de "medidas tarifárias unilaterais erradas" durante as negociações, isso demonstraria uma falta de sinceridade no discurso norte-americano, o que, na visão do governo de Xi Jinping, prejudicaria ainda mais a confiança entre os dois lados. "Dizer uma coisa, fazer outra, ou até, tentar usar as conversas como disfarce para coerção e chantagem não funcionará aqui na China", completou.
No dia anterior, um veículo de comunicação da China, ligado à televisão estatal CCTV, comunicou que o governo do presidente Donald Trump havia buscado "múltiplos canais" para negociar as tarifas com o país asiático. "Do ponto de vista da negociação, os Estados Unidos são, atualmente, a parte mais ansiosa", indicou a mídia chinesa.
Pelo lado norte-americano, Washington ainda não se pronunciou sobre o comunicado do ministério chinês, mas, nos últimos dias, o presidente Trump afirmou em diferentes ocasiões que autoridades da China o procuraram para tentar estabelecer negociações. Antes do feriado, ele disse que havia "muitas boas chances" para concretizar um acordo.
No entanto, o governo chinês negou que houvesse uma procura por parte do país asiático para resolver a questão por meio de negociações bilaterais. As tarifas sobre os produtos de ambos os países ainda seguem em um patamar bastante elevado, após a escalada de retaliações no mês de abril. Atualmente, a maioria dos produtos chineses são taxados em 145% pelos EUA, enquanto, para os produtos norte-americanos na China, as tarifas são de 125%.
Conversa gradual
Na avaliação do professor de economia internacional na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Masimo Della Justina, apesar de estudar a possibilidade, a China ainda não indica que deve apresentar propostas específicas. "Indicativos de que pode ser uma conversa gradual para garantir oportunidades já existentes a ampliar outras, tanto de exportações quanto de importações; de acomodação entre as múltiplas oportunidades com outras economias da Terra e não necessariamente uma acomodação única e bilateral com os EUA", considera.
Para o especialista, Pequim considera que um possível diálogo entre os dois países teria que estar dentro do plano estratégico da China, de médio e de longo prazo, utilizando diversos cenários que a nação asiática tem a seu dispor. "Esse diálogo, certamente, será uma resposta não submissa, mas ativa, dentro do plano estratégico de país e uma oportunidade de afirmação de liderança das autoridades chinesas dentro e fora da China", acrescenta Della Justina.
O professor destaca que o anúncio da disposição para iniciar um diálogo gradual deve apresentar objetivos imediatos, como minimizar desequilíbrio de bolsas de valores no mundo ante incertezas, acalmar consumidores dentro da própria China sobre preços e desemprego, e também tranquilizar comerciantes de pequeno porte nos EUA em específico, que, como lembra o professor, é sobre quem recai o valor final das tarifas, cujo valor é reado aos consumidores.
"No geral, comerciantes e consumidores nos EUA não estão numa corrida de aquisição, pois aguardam um fracasso das iniciativas de Trump. Mesmo assim, os preços já estão subindo e alimentando a inflação no processo produtivo como também no consumo", conclui.