Literatura

Fred Itioka lança livro com relatos de homens gays ao redor do mundo

O livro Cartas fora do armário, do jornalista Fred Itioka, reúne relatos de homens gays ao redor do mundo com cartas para nunca mandadas para os pais

Fred Itioka - Carta fora do armário  -  (crédito: Acervo pessoal )
Fred Itioka - Carta fora do armário - (crédito: Acervo pessoal )

Neste sábado (12/4), a livraria Platô recebe o jornalista e escritor Fred Itioka para uma roda de conversa sobre o livro Cartas fora do armário, de sua própria autoria, com a orelha escrita por Serginho Groisman . Em meio à crise pandêmica de 2020, o roteirista do programa Altas Horas disse pela primeira vez “eu te amo” ao pai. O silêncio constrangedor e a surpresa do progenitor despertaram em Itioka o desejo de criar o projeto Cartas fora do armário. O conjunto de textos que abordam mágoas, perdão e as complexidade de ser um homem gay no mundo contemporâneo compõem o núcleo deste trabalho.

Ao Correio, Fred revela que não cresceu em um lar repressor. De origem asiática, o jornalista de 53 anos entrou em confronto com a própria ideia de paternidade após um telefonema estranho com o pai. Com o número de mortes por covid-19 crescendo diariamente em 2020 — e considerando o risco elevado para pessoas mais velhas —, o autor sentiu a urgência de dizer algo que nunca havia dito ao pai. A surpresa e o silêncio foram as únicas reações possíveis naquele momento. Fred atribui essa frieza à herança oriental com a qual conviveu durante toda a juventude.

 

As questões que surgiram a partir dessa relação com o pai dizem respeito às expectativas de masculinidade típicas da década de 1970, época em que Fred nasceu. A representação caricata de pessoas orientais na mídia, a falta de espaço para discutir sexualidade e a autoestima fragilizada tornaram-se guias na busca por entender a distância emocional entre pais e filhos quando a homossexualidade entra em cena. Os relatos contidos no livro atravessam fronteiras: há entrevistas com pessoas do Afeganistão e da Índia — países onde a homoafetividade ainda é crime — até histórias vindas de Minas Gerais. A discussão política e, em certa medida, freudiana dessa coletânea lança luz sobre problemáticas sociais por meio das lentes da intimidade familiar — aquilo que acontece a portas fechadas.

As 106 páginas de Cartas fora do armário nasceram de entrevistas e de um convite feito por Itioka: que cada entrevistado escrevesse uma carta que gostaria de mandar ao próprio pai. Todas foram publicadas anonimamente para garantir a privacidade dos autores e proteger aqueles que vivem em países com leis anti-LGBTQIAPN+. O processo de revisitar o ado e expor fragilidades familiares foi doloroso demais para alguns, que acabaram desistindo de participar — algo que Itioka compreende plenamente. “A violência física e verbal acontece em todo o mundo (contra pessoas da comunidade queer), as pessoas podem até pensar que grandes cidades como Nova York ou países onde os direitos são garantidos são exceção, mas isso não é verdade”, afirma o autor. Ele ressalta a tristeza sobre o avanço do conservadorismo no mundo. “Esses mais de cem relatos me deixaram triste quando percebi que damos dois os para frente e em seguida um para trás”, lamenta.

Serviço 

Cartas fora do armário

Sessão de leitura e lançamento. Neste sábado(12/04), às 17h, na Livraria Platô (CLS 405 BLOCO A LOJA 12)

*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel

postado em 11/04/2025 12:21 / atualizado em 11/04/2025 12:22
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