
Desde os anos 2000, o ilustrador e quadrinista Tiago Palma sonhava em trabalhar para a editora responsável por dar vida a personagens icônicos como o Homem de Ferro, o Capitão América e o Homem Aranha. Hoje, aos 42 anos, o brasiliense comemora a realização do sonho: ele será responsável por ilustrar a nova história em quadrinhos da Marvel, intitulada Os Novos Vingadores.
Palma conta que o convite oficial aconteceu em março deste ano. Até então, ilustraria os personagens de Thunderbolts. Porém, a marca divulgou nas redes sociais pôsteres do novo filme com o nome de Os Novos Vingadores, o que também alterou o nome dos quadrinhos. O ilustrador destaca que trabalhar para uma marca tão grande exige muita responsabilidade. "Ao mesmo tempo, é muito emocionante, porque é algo que eu vinha tentando havia muitos anos", relata.
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Segundo o quadrinista que fará os traços das histórias dos novos heróis, o processo de criação é gradual e ele entrega de três a quatro páginas por semana. Para isso, Palma recebe as descrições do que a marca deseja que seja feito. "O roteiro vem dividido com a quantidade de quadros e com as especificações, como a cena de uma cidade vista de cima e um prédio pegando fogo", exemplifica.
O convite
A história do quadrinista brasiliense com uma das maiores editoras de histórias em quadrinhos do mundo começou em 2016, quando ele teve o primeiro contato com um dos recrutadores da Marvel, Ryan Penagos, responsável por achar novos talentos. O encontro foi na Comic Con Experience (CCXP), em São Paulo, onde conseguiu mostrar o portfólio ao agente. "Mas eu ainda não tinha as habilidades necessárias", afirma. Apesar da negativa, Palma não desistiu. Mandava, constantemente, os desenhos produzidos, na expectativa da tão sonhada aprovação.
Na New York Comic Con (NYCC), em 2018, o brasiliense conheceu Rickey Purdin, encarregado de istrar a relação de artistas da Marvel. Diante da oportunidade, ele continuou enviando desenhos para o recrutador. Em dezembro de 2024, na CCXP, reencontrou Purdin e conseguiu apresentar seus projetos autorais. "Ele viu a minha evolução e disse: 'Você está pronto, vamos nessa!'", lembra.
Começo
Formado em publicidade, Tiago Palma diz que o interesse pela ilustração sempre existiu. Desde criança, tinha facilidade em desenhar, mas, aos 12 anos, percebeu que ainda mantinha os desenhos no dia a dia e os amigos, não. "Possuía habilidade para imitar certas coisas, desenhar alguém ou fazer caricaturas e isso me estimulou." Até que, aos 13 anos, o que era uma brincadeira virou coisa séria.
Com o apoio do tio, Marcus Eurício Álvaro, ilustrador e diretor de arte, o incentivo foi ainda maior. "Ele era um exemplo a ser seguido, já que trabalhava no mundo artístico. Tinha no meu tio um exemplo de alguém que gostava de desenhar, trabalhava com ilustração e tinha nisso um projeto de vida", ressalta. Álvaro apresentava ao sobrinho os quadrinhos da época, que eram mais elaborados, diferentemente dos que ele era acostumado a ler. "Fui vendo aqueles desenhos com mais ação e me apaixonei cada vez mais pela coisa", comenta.
Os trabalhos começaram a surgir ainda no ensino médio: quando o tio não conseguia fazer algo, ava para Palma. "Comecei a pegar um trabalho aqui, outro ali. Desde os anos 2000, o foco já era a ilustração como um meio profissional." Ele explica que a família sempre o apoiou, o que fez com que tivesse o espaço necessário para se desenvolver e evoluir.
Dom Casmurro
Um dos primeiros pagamentos que o brasiliense recebeu foi dos colegas da escola, para um trabalho de literatura. A turma encomendou com ele uma adaptação em quadrinhos de Dom Casmurro (Machado de Assis). "Um grupo da minha sala, que não sabia desenhar, encomendou comigo esse trabalho, e eu fiz. Foi um dos primeiros trabalhos pelo qual recebi, de maneira simbólica, mas ficou muito marcado", lembra.
Quando perguntado sobre qual a maior adversidade que enfrentou desde o início da trajetória, Palma responde que encontrar um estilo é a verdadeira dificuldade de um ilustrador. "Isso é um desafio para a vida inteira, porque não é a gente que vê o estilo, são os outros que veem." Ele declara que, na ilustração, é necessário uma maior variedade de traços, pois assim mais oportunidades de trabalhos aparecem.
O ilustrador lançou o primeiro livro, Calaboca, Fido, em 2022, e considera que esse foi um divisor de águas na carreira. Até então, tudo que havia publicado eram livros de coletâneas, com autores e roteiristas diferentes. Com a estreia do livro que desenhou, Palma pôde ter um projeto 100% dele.
Além de conquistar novos trabalhos com a Marvel, como desenhar o quadrinho do Demolidor ou do Homem Aranha, o brasiliense destaca que sonha agora em poder se sustentar a partir dos próprios projetos. "Gostaria de poder viver disso e de publicar minhas próprias histórias, e que elas tenham uma vida longa", projeta Palma.
*Estagiária sob a supervisão de Eduardo Pinho