
A humanidade vem sendo milenarmente atraída pelo belo e o autocuidado, seja com os delineados egípcios e as perucas de Cleópatra ou com as bochechas pigmentadas das gueixas japonesas. Caminhando com a cultura, a expressão da beleza tornou-se um dos maiores mercados do mundo. Segundo o Mapa do Comércio da Fecomércio/DF, na capital do país, existem, atualmente, 24 mil empresas de beleza abertas na Receita Federal, que movimentam, mensalmente, cerca de R$ 350 milhões na economia local. Desse total, mais de 10 mil empresas são MEIs.
Nascida em um lar simples, filha de uma dona de casa e de um pedreiro, Adriana Ribeiro, 46 anos, cresceu em meio a três mulheres negras, sua mãe e irmãs, em uma época em que cuidar dos próprios cabelos era mais questão de necessidade do que de estilo. Sem dinheiro para frequentar salões, a mãe aprendeu sozinha a lidar com as madeixas crespas da família e acabou ensinando o ofício a ela, que ou a gostar da área de beleza. "Aos 12 anos, eu já fazia unhas profissionalmente", lembra Adriana. Mas foi aos 28 que algo despertou de vez: sua filha de apenas três anos pediu para alisar o cabelo.
A cena foi um divisor de águas. "Na época, eu e toda minha família usávamos cabelos alisados. Não existia representatividade alguma para ela", conta. A partir desse momento, nasceu o AfroChiq, que elas definem como mais que um salão: "um espaço de transformação de mentalidades". Adriana ou a se dedicar, exclusivamente, ao cuidado com cabelos naturais, especializando-se por conta própria, já que não existiam escolas voltadas à beleza negra. "Criei meu próprio método de trabalho. Estudava com vídeos de fora do país, traduzindo com Google Tradutor e usando internet discada", conta, rindo, mas com a consciência da luta que travou.
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"O que me faz continuar, é ver que não transformo apenas cabelos, mas vidas inteiras. Às vezes, um único corte traz uma nova perspectiva. Às vezes, é uma conversa que vira a chave. Outras vezes, é uma formação que tira alguém do subemprego e dá uma nova profissão", afirma com brilho nos olhos. Apesar de tudo, ela acredita que beleza é, sim, um bom negócio, especialmente para quem se especializa e encontra seu nicho. E deixa um conselho para quem quer entrar na área: "Estude muito. Entenda seu público. Esqueça rivalidade e foque em fazer diferença. Não vai ser fácil, mas se estiver no sangue… pode ser maravilhoso."
A network do DF
Sheyla Silvanna, 42, é uma dessas pessoas e vive, exclusivamente, de seu trabalho com maquiagem, penteado e figurino há, aproximadamente, 18 anos. A maquiadora trabalha com estética para televisão, filmes, produtoras e atendimentos domiciliares. "Se você construir uma rede, um network aqui no DF, você trabalha com pessoas grandiosas", afirma. Ela conta que atende a muitas autoridades. "O mercado que eu atendo hoje, que é muito mais específico, é esse que é mais valorizado. Claro que hoje você também encontra pessoas que trabalham com a média de R$ 100 o serviço, na maioria das vezes sendo iniciantes. Eu, hoje, tenho um preço maior, devido as experiências adquiridas no decorrer do tempo", conta.
A maquiadora trabalhou por muitos anos com política e, por um tempo, deixou de atuar no nicho beleza devido à falta de oportunidades, principalmente com a pandemia. "Depois de um tempo, as coisas aram a acontecer de novo na minha área e aí, sem pensar duas vezes, larguei tudo e voltei para meu berço, que é onde me sinto muito confortável", lembra. Para Sheyla, atender a pessoas promove uma troca de experiências valiosa. "Enquanto faço o atendimento, converso sobre a vida. A gente fala de coisas boas, coisas ruins, e consigo ar um pouco da minha arte, de quem eu sou, minha essência e energia. Isso conta muito no atendimento", reflete.
*Estagiária sob a supervisão
de Patrick Selvatti
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